Comunicação e controle social Livro organizado por
Pedrinho Guareschi em 1991.
Uma análise dos meios de comunicação de massa. Procura detectar os mecanismos ocultos responsáveis pela alienação dos indivíduos. O autor aborda temas como ideologia, consciência de massa e manipulação.
O livro em questão divide-se em cinco capítulos:
A realidade da comunicação – visão geral do fenômeno; Comunicação, Gestalt e Behaviorismo; Comunicação e Psicanálise; Comunicação e Produção de Subjetividade; e Comunicação e Teoria Crítica.
O capítulo inicial dessa obra faz com que pensemos como a comunicação está presente na construção da realidade, na detenção do poder, na cultura, no próprio controle social e como ela modifica tudo isso e fomenta um novo ser humano.
Fala-se na construção da realidade a partir de o que é comunicado, veiculado, passa a existir e o que não o é cai no esquecimento, no vazio, passando assim a não ser mais realidade. A comunicação tem duplo poder de fazer uma coisa existir ou deixar de existir. Esse poder, aqui colocado, é algo que deve ser particularmente analisado. Afinal de contas, deter essa construção da realidade significa possuir certo poder. Poder esse sobre a existência das coisas, sobre difusão de
idéias e sobre a opinião pública e sua criação. Possuir a comunicação possibilita definir os outros, definir alguns grupos sociais como sendo bons ou ruins, piores ou melhores, de acordo com os que detém o poder. Ter o rosto na televisão ou a voz no rádio faz com que se consiga ser eleito. A conclusão lógica para isso é que a voz que desponta e a imagem que aparece é a de alguém que passa a existir, como afirma
Guareschi. E no momento de se dar o voto, escolhe-se aqueles que existem.
No campo da cultura é que de longe se percebe a importância fundamental da comunicação. Sendo os meios de comunicação indispensáveis tanto na criação como na transmissão, mudança, legitimação e reprodução de determinada cultura. Capazes, assim, de subjugar outras culturas.
Esse subjugue passa a exercer parte da constituição do controle social. Dominação estabelecida pela comunicação se faz a partir da interioridade da consciência do outro. E assim o dominador estabelece em cima do dominado uma condenação e uma
estigmatização a prática da verdade. Desse modo, a verdade só será daquele que possuir o poder da comunicação e consequentemente terá o controle em suas mãos. Deve-se então deixar de falar em Meio de Comunicação Social para em meios de informação, a serviço do controle social.
O segundo capítulo vai relacionar o
behaviorismo e a
Gestalt com a comunicação social, pois elas julgam que os princípios básicos dessas teorias psicológicas permitem uma reflexão a cerca da comunicação. Os anúncios e os anunciantes passam a se utilizar mais fortemente destas teorias e de outras a partir do momento que informar sobre o produto simplesmente não funcionava mais para a venda destes, assim essas mensagens passaram agora a impulsionarem uma compra irracional.
As duas teorias enfatizam o ambiente, e as respostas e percepção do sujeito. Dessa forma, as duas servem à manipulação ou ao menos a possibilidade de manipular o sujeito e talvez por isso, são tão amplamente usadas pela comunicação social
direta ou
indiretamente e consciente ou inconscientemente. O importante aqui é perceber as ferramentas que casa sistema ou teoria utiliza pra emitir pareceres.
No terceiro capitulo, o da Psicanálise, temos essa compreensão de ferramenta sendo utilizada também. A autora desse capítulo,
Neuza Guareschi, coloca que nada acontece por acaso. E especialmente nas
propagandas é perceptível o quanto esse sistema é manuseado. Não que seja como uma receita de bolo, mas que essa utilização estabelece uma razão para ser praticada nas
propagandas é fato.
Guareschi comenta ainda sobre a sociedade capitalista na qual vivemos, onde as relações entre as pessoas são de exploração e dominação, e que poucos são os que podem acompanhar o consumismo exacerbado que se implanta nesse tipo de sociedade. A autora diz que mesmo sem condições a maioria deseja aquilo que as
propagandas nos mostram. É, então, neste momento que a pressão, isto é, a quantidade de energia despendida para satisfazer o instinto, é muito maior justamente naqueles que não possuem essa condição, este desgaste maior de energia na busca da satisfação, é a “fábrica” das frustrações, que por sua vez geram as angústias que deixam as pessoas confusas e até perturbadas
psiquicamente. Essa questão remete ao intenso processo de individualização que se experimenta hoje.
O capítulo seguinte vem tratar da relação feita entre os Meios de comunicação de massa e a produção de
subjetividade, tendo por ponto de partida o desenvolvimento do capitalismo moderno que
afeta as relações de produção e por sua vez determina a construção de uma
subjetividade. É
exatamente ligando esse processo aos Meios de Comunicação que essa situação se configura, pois se utilizando da linguagem intensiva, que estabelece conexão
direta entre as instâncias psíquicas (definem o modo de perceber e construir o mundo) e o que é produzido pelo capitalismo. Por isso o desejo se torna uma intensidade sempre à procura da linguagem para que possa se expressar. Assim o processo basicamente acontece quando a
mídia capta as intensidades, que são investidas de significados ao se criar uma linguagem onde o desejo se concretiza e acontece. Com isso o desejo perde ou anula seu anterior
caráter ativo de possibilidade de produções singulares no social, que também faz perder a possibilidade de uma multiplicidade de singularidades revolucionárias. Tal fato aconteceu já que o desejo se vinculou a uma intensidade
pluralística de sentidos. Portanto,é possível afirmar que os Meios de Comunicação são um importante equipamento
maquínico capitalístico, já que cria o indivíduo do capitalismo mundial integrado (globalizado), ao mesmo tempo produz uma massa desenraizada produtiva (ou seja um indivíduo que técnico, que não se importa com sua história, que esquece dela), o que mantém um sistema
hierarquizante de produções.
Creio que os meios de comunicação difundem, sim, uma concepção de mundo. E dizer que o real se cria no social também está valendo. Porém, nem todo mundo produz sua própria realidade. Têm muitas vítimas iludidas, sem poder de crítica e sem ver no horizonte uma realidade que lhe seja própria.
Aqueles que se sujeitam a esse poder são oprimidos. Já aos opressores cabe a tarefa de definir. Definir grupos sociais como sendo bons ou ruins. Subjugar tudo aquilo que lhe for prejudicial. Desmerecer tais coisas pelo fato de ter ou não poder.
Foucault considera o poder como "um exercício, que se
efetua, uma relação, que provoca resistências, porém nada fixo, mas sim com pontos móveis e transitórios que se distribuem por toda a estrutura social.". E sendo móvel ele pode estar aqui ou ali. Desse modo maleável o poder é
barganha pra aqueles que o possui.
E a pergunta que fica é
instumentalizar a casta dominante é realmente o certo? Dar-lhes mais poderes para cada vez mais aumentar as diferenças sociais é justo?