5 de out. de 2007

ATA - Reunião 02.10.07

- Presença: Andressa, Bruna, Herica, Jade, João, Karyne, Laura, Marcus, Rafaela, Vanessa
- Painel: encaminhar as produções para o Blog até hoje (05.10)
- Texto sobre a metodologia padronizado para os três paineis: Kleber
- Tesoureira dos painéis ($30,00 cada - Marcus já confirmou): Andressa
- Ver com Thiago (3º período) sobre a configuração dos painéis - já confirmado por $30,00 os três painéis.
- Herica, Andressa e Marcus: dividir a taxa de inscrição de Marcus ($3,35 cada).
PRÓXIMA REUNIÃO
- Fechamento do texto e da discussão do fichamento "A Loucura e a Sociedade"

1 de out. de 2007

Painel e etc

Oi gente, acho que já devemos começar a pensar a produção de cada painel que escrevemos na jornada científica UFS. Cada grupo poderia formular uma proposta de formatação do painel, com as informações que são fundamentais para o trabalho. É importante considerar que um painel não precisa ser auto-explicativo. Penso que ele deva conter elementos que despertem o interesse de quem passa e ao mesmo tempo possa ser disparador de questões para quem para e quer saber mais sobre esse assunto.
Um painel também envolve custos e edição. Quem tiver propostas leve amanhã. No mais, já é outubro. Abraço!

O NASCIMENTO DA MEDICINA SOCIAL

O texto de Michel Foucault é de uma conferência que tem por principal objetivo indagar se a medicina sempre foi social, coletiva e não centradas no indivíduo. Principalmente se a medicina moderna, que nasceu nos fins do século XVIII, teria ou não essa concentração no individual. Poderia ser correta a hipótese de que a medicina moderna tornou-se individual porque penetrou no interior das relações de mercado, tendo em vista a economia capitalista que prima pela relação médico-doente, ignorando a dimensão global, coletiva da sociedade?

Foucault procura mostrar o contrário: que na realidade a medicina moderna é uma prática social que possui uma tecnologia do corpo e tendo apenas como um de seus usos o tipo individual que valorizaria essa relação médico-doente. Para esclarecer essa indagação, Foucault menciona que no livro de Victor Bullough (1965), conta sobre a história da medicina na Idade Média que já era do tipo individualista, mas com dimensões coletivas discretas e limitadas. Por isso e outros indícios Foucault aposta da hipótese de que o capitalismo ao invés de ter transformado a medicina coletiva em privada, fez exatamente o contrário. Ocorreu a socialização da medicina, pois o corpo tornou-se força de produção, força de trabalho, existindo o interesse, com isso, de controlar a sociedade através do indivíduo, investindo-se primeiro no âmbito biológico, somático e corporal, para só adiante controlar as consciências e ideologias.

O corpo torna-se uma realidade bio-política e a medicina é uma estratégia bio-política, que serviu e serve para o controle do corpo. Mas apesar do corpo ter sido investido político e socialmente como forma de trabalho, esta não foi a primeira forma assumida pela medicina e sim em último lugar, já na segunda metade do século XIX. Para organizar didaticamente a grosso modo, Foucault indica três etapas para a formação da medicina social: a medicina de Estado, a medicina urbana e a medicina da força de trabalho.

I. A medicina de Estado acontece na Alemanha, no começo do século XVIII, em que se forma a ciência do Estado, onde este se torna objeto de conhecimento, além de instrumento e lugar de formação de conhecimentos específicos. Tais conhecimentos se desenvolveram de forma mais rápida e concentrada neste país, tendo entre as razões, a necessidade de se fazer inquéritos sobre recursos e o funcionamento dos estados que compunham a Alemanha, que naquela época ainda se encontrava dividida, sob intenso clima de conflitos e afrontamentos. Uma outra razão para essa rápida ascensão da ciência do Estado foi a condição econômica estagnada em que se encontrava a Alemanha, que impulsionou a burguesia se aliar ao soberano para melhor organizar o Estado.

O mercantilismo era a teoria econômica ou prática política que delineava as ações daquele momento, final do século XVII para início do século XVIII. Com fins de melhor controlar a produção e por sua vez a quantidade de população ativa, a Alemanha desenvolve a chamada política médica de Estado. Este sistema teria um modo muito mais completo de observação da morbidade, ao requerer a contabilidade de médicos e hospitais das diversas regiões da Alemanha, além do registro dos diferentes fenômenos epidêmicos ou endêmicos. Essa política permitiu ainda o acontecimento de uma série de inovações tais como: a organização de um saber médico estatal, a normalização da profissão médica, a subordinação central e integral de vários médicos em uma nova organização estatal.

A medicina de Estado tinha por objetivo não de garantir uma força de trabalho, mas o corpo dos indivíduos enquanto força do Estado. Não é a toa que essa medicina se propôs a mais funcionalizada, estatizada, coletivizada dessa época fazendo com que os outros modelos nada mais sejam do que atenuações.

II. A medicina urbana aconteceu na França já nos fins do século XVIII, exatamente pelo desenvolvimento das estruturas urbanas. Este país também se encontrava fracionado em múltiplos territórios heterogêneos, além da existência de poderes senhoriais rivais num mesmo território e a estratificação do poder em representantes do poder estatal. Com essa situação, fica clara a necessidade da unificação do poder urbano bem regulamentado, que por sua vez proporcionará a unificação do território francês de modo coerente e homogêneo.

Esse objetivo vinha por razões, tanto econômicas, pela intenção de tornar a cidade um importante lugar de mercado, além de unificar as relações comerciais à nível de nação; quanto por razões políticas, pois com o desenvolvimento das cidades, ocorre o aparecimento do proletariado, que fará com que as tensões aumentem consideravelmente. Isso se deve ao afrontamento entre pequenos grupos (plebe e burguês, ricos e pobres) o que ocasiona agitações e sublevações urbanas cada vez mais numerosas, que se chamam de revoltas de subsistência.

Dentro desse panorama é que percebe a necessidade de um poder político capaz de esquadrinhar a população urbana para um melhor controle da mesma. Para tanto, colaborou o surgimento da atividade do medo diante das cidades, caracterizado por pânicos ocasionados pela vida urbana das grandes cidades do século XVIII. Este pânico urbano era resultado de uma inquietude político-sanitária, que atingia principalmente a burguesia. Por isso essa classe reage ao lançar um modo de intervenção que se trata do modelo médico e político de quarentena.

Surgiram para esse esquema de quarentena dois modelos: um em reação à lepra, que consistia em um mecanismo de exclusão ou exílio do doente, semelhante a uma forma religiosa de atuar, pois se tinha a intenção de purificar as cidades retirando os “bodes expiatórios” (os leprosos); o outro teria sido suscitado pela peste que procurava uma análise minuciosa da cidade, de maneira individualizante, com o registro permanente tal qual uma revista militar. Desta forma, a sociedade estaria disposta em um espaço esquadrinhado, dividido e inspecionado sob um olhar permanente e controlado de registro.

Entre os objetivos delineados para esse plano de conduta médica urbana, tinha-se: 1º) O fato de analisar regiões de amontoamento, confusão e perigo urbano, que são propícios a doenças e fenômenos epidêmicos e endêmicos. Espaços como cemitérios passavam a se localizar em regiões afastadas da cidade e a organizar seus cadáveres tal qual um exército enfileirado e classificado; 2º) O controle e estabelecimento de uma boa circulação do ar e da água. Isso se devia por pensar que o ar seria um dos grandes fatores patogênicos, pois agia diretamente por ação mecânica sobre o corpo. Com isso se organizou métodos de arejamento das cidades; 3º) A organização da distribuição e seqüências de água e esgoto, de maneira que não entrassem em contato.

Já a importância da medicalização das cidades se deu principalmente: · quando a prática médica entrou em contato direto com as ciências extra-médica ou físico-quimicos, graças a socialização da medicina; · quando a medicina passou a se preocupar com as condições de vida e o meio de existência, ou seja, da relação do organismo com seu meio, e isso devido a união das ciências naturais à medicina; · quando surge a noção de salubridade caracterizada pela preocupação com o estado das coisas, do meio e dos elementos constitutivos que afetam a saúde dos indivíduos. Junto a essa idéia surge a noção de higiene pública que seria as técnicas de controle político-científico e modificação dos elementos materiais do meio que sejam suscetíveis a favorecer ou prejudicar a saúde.

III. A medicina da força de trabalho surge na Inglaterra, no momento de seu desenvolvimento industrial, fazendo aparecer uma classe pobre, plebéia e proletária que ainda não era considerada um elemento perigoso para a saúde da população, mas passaria a ser. O que fazia com que essa massa ainda não se tornasse um perigo seria a ordem quantitativa dessas pessoas que ainda não eram tão numerosos e o fato de serem úteis à vida urbana, servindo como uma parte instrumental da existência urbana. Foi já no segundo terço do século XIX, aconteceram razões que levaram a crer que o pobre seria um perigo, entre elas: 1. Por razão política, pois enquanto força a população pobre poderia ser capaz de se revoltar ou participar de revoltas; 2. No momento em que se constrói sistemas (postal e carregadores), dispensam, em parte, os serviços prestados pela população, produzindo uma série de revoltas; 3. O aparecimento da cólera de 1832 fez cristalizar uma série de medos políticos e sanitários sob a população proletária, fazendo crer no perigo em suas presenças na cidade, surgindo com isso a divisão do espaço urbano em bairros e habitações de ricos e pobres.

Para a socialização da medicina inglesa, elaborou-se a Lei dos pobres que tinha o intuito ambíguo de tanto promover uma assistência controlada aos pobres, através de uma intervenção médica, o que os beneficiava por um lado; como também protegia as classes ricas, sendo a burguesia quem mais se interessava em assegurar sua segurança política. Para melhor completar o intuito da Lei, grandes fundadores da medicina social incluíam o sistema Health Service que tinham medidas preventivas a serem tomadas tais como a intervenção nos locais insalubres, as verificações de vacinas, o registro de doenças.

Esta medicina de controle suscitou uma série de reações violentas da população, de resistência popular, que aconteciam não só na Inglaterra, da segunda metade do século XIX, como em diversos países do mundo. Formaram-se grupos de resistência aparentemente religiosos que lutavam contra a medicalização, o direito de querer ser atendido ou não pela medicina oficial e, sobretudo, o direito sobre o próprio corpo.

Esta medicina foi a que mais vingou, pois ligou três pontos: a assistência médica ao pobre, o controle de saúde da força de trabalho e o esquadrinhamento geral da saúde pública. Ao mesmo tempo realizou três sistemas médicos: a assistencial, a administrativa e a privada. Conclui-se que a medicina na Inglaterra era essencialmente um controle da saúde e do corpo das classes mais pobres para torná-las mais aptas ao trabalho e menos perigosas às classes mais ricas.