21 de dez. de 2007

Individualidade - cap 2 de Modernidade Líquida, Zygmunt Bauman (Resumo)

Em primeira análise, duas visões distópicas sobre o trágico futuro do mundo foram lembradas pelo autor: O mundo de George Orwel e o de Aldous Huxley. Eles compartilhavam de um pressentimento de um mundo controlado, da liberdade individual reduzida e rejeitada por pessoas treinadas a obedecer ordens e seguir rotinas estabelecidas. Ambos sentiram que a tragédia do mundo era seu ostensivo e incontrolável progresso rumo à separação entre os mais poderosos e remotos controladores e o resto, destituído de poder e controlado.

Capitalismo – pesado e leve / Tenho carro, posso viajar
As histórias de Orwell e Huxley poderiam ter sido classificados como “discurso de Joshua”, onde a ordem é a regra e a desordem, uma exceção. Aqui, o mundo é organizado e delimitado por fronteiras impenetráveis. Tudo serve a algum propósito, e a própria ordem é, ela mesma, seu próprio propósito. Deus a fez existir e a tarefa de projetar e servir à ordem cabe aos homens. O que sustentava o discurso de Joshua era o mundo fordista, um modelo de industrialização, acumulação e regulação, separando projeto de execução, liberdade de obediência.
O fordismo era a autoconsciência da sociedade moderna em sua fase “pesada”, “sólida”. Nesse estágio, capital, administração e trabalho estavam condenados a ficar juntos talvez para sempre. O capitalismo pesado era obcecado por volume, tamanho e fronteiras firmes impenetráveis.
Agora, o trabalho permanece tão imobilizado quanto no passado, mas o lugar em que ele imaginava estar fixado perdeu sua solidez. Alguns dos habitantes do mundo estão em movimento, para os demais é o mundo que se recusa a ficar parado. O discurso de Joshua, então, começa a soar vazio.
Na passagem do capitalismo pesado para o leve foi considerado um novo tipo de incerteza: não saber os fins, em lugar da incerteza tradicional de não saber os meios. O que está em pauta é considerar e decidir, diante dos riscos, quais dos flutuantes e sedutores fins devem ter prioridade. Ao contrário do pesado, o capitalismo leve tende a ser obcecado por valores, e a ver o mundo como uma coleção infinita de possibilidade. Assim, é a infinidade das oportunidades que preenche o espaço deixado vazio pelo desaparecimento das “torres de comando e de controle”: é o mundo pós-fordista, moderno fluido, dos indivíduos que escolhem em liberdade.
Tudo corre agora por conta do indivíduo. Cabe a ele descobrir o que é capaz de fazer, esticar essa capacidade ao máximo e escolher os fins a que essa capacidade poderia melhor servir. Para que as possibilidades continuem infinitas, nenhuma deve ser capaz de petrificar-se em realidade. Melhor que permaneçam líquidas, fluidas, finitas. Viver em meio a chances aparentemente infinitas tem o gosto doce da “liberdade de tornar-se qualquer um”. O tornar-se sugere que nada está acabado e temos tudo pela frente. A infelicidade dos consumidores deriva do excesso e não da falta da escolha. Caracteriza-se como uma alegria duvidosa, dada a incerteza perpétua e um desejo que nunca saciará.

Pare de me dizer; mostre-me! / A compulsão transformada em vício
Não faltam ainda pessoas que têm milhões de seguidores identificados pelo autor como conselheiros. O papel de um exemplo na sociedade tem a importância quando olhando para a experiência de outras pessoas, esperamos descobrir e localizar os problemas que causaram nossa própria infelicidade, dar-lhes um nome e, portanto, saber para onde olhar para encontrar meios de resistir a eles ou resolvê-los.
Uma celebridade é uma pessoa conhecida por ser muito conhecida. As celebridades com autoridade suficiente para fazer com que o que dizem seja digno de atenção mesmo antes que o digam são muito poucas para estrelar os inúmeros programas de entrevistas da TV, mas isso não impede que esses programas seja uma compulsão diária para milhões pessoas ávidas por aconselhamento. As pessoas “comuns” que aparecem na TV são tão desvalidas e infelizes quanto os espectadores. Seria equivocado condenar ou ridicularizar o vício dos programas de entrevistas como efeito da eterna avidez humana pela fofoca e da “curiosidade barata”. As lições retiradas desse programas respondem a uma demanda genuína e têm valor pragmático inegável, pois já sabemos que depende de nos mesmos fazer o melhor possível de nossas vidas.
Procurar exemplos, conselho é um vício e todos os vícios são auto-destrutivos, destroem a possibilidade de se chegar à satisfação. Exemplos são atraentes enquanto não-testados; a satisfação não duraria muito, pois no mundo dos consumidores as possibilidades são infinitas igualmente ao volume de objetos sedutores à disposição. Então, permanecer na corrida se torna o verdadeiro vício. Nenhum prêmio é suficientemente satisfatório para destituir a atração de outros prêmios O desejo se torna seu próprio propósito. O arquétipo dessa corrida particular é a atividade de comprar: esquadrinhar as possibilidades, examinar, tocar, sentir e manusear coisas. “Vamos às compras” pelo tipo de imagem que gostaríamos de vestir e por modos de fazer com que os outros acreditem que somos o que vestimos; pelos meios de extrair mais satisfação do amor; pelos recursos para fazer mais rápido o que temos a fazer. Essa lista não tem fim. O consumismo de hoje, porém, não diz respeito à satisfação das necessidades, mas ao desejo, o qual liga o consumo à auto-expressão, ao gosto e à discriminação.
Mas o consumismo atual não está fundado sobre a regulação dos desejos, mas sobre a liberação de fantasias desejosas. A história do consumismo é a quebra de sucessivos obstáculos “sólidos” que limitam a fantasia e reduzem o “princípio do prazer (PP)” ao que é dito pelo “princípio da realidade (PR)”. Um estimulante ainda poderoso para manter a demanda do consumidor é o “querer”, que é imediato e completa a libertação do PP, limpando os últimos resíduos dos impedimentos do PR.

O corpo do consumidor / Comprar como ritual de exorcismo
O principal cuidado é a adequação: estar sempre pronto, desenvolver novos desejos (insaciáveis). Se a sociedade de produtores coloca a saúde como o padrão de meta, a sociedade de consumidores tem seu ideal na aptidão. A saúde demarca os limites entre norma e anormalidade; é o estado próprio e desejável de corpo e espírito. Refere-se a uma condição corporal e psíquica que permite a satisfação das demandas do papel socialmente atribuído. O estado de aptidão é tudo menos sólido, seu verdadeiro teste fica sempre no futuro: “estar apto” significa ter um corpo flexível, ajustável, pronto para viver sensações ainda não testadas e imprevisíveis. A aptidão diz respeito a uma experiência subjetiva: a satisfação e o prazer são sensações precisam ser subjetivamente experimentadas.
O status de todas as normas (também da saúde) foi abalado numa sociedade de infinitas possibilidades. O que ontem era considerável normal e satisfatório, hoje pode ser considerado preocupante, patológico. E, dentre outras coisas, é por isso que o cuidado com a saúde torna-se cada vez mais semelhante à busca da aptidão: contínuo, fadado à insatisfação permanente, gerando ansiedade e incerteza.
A compulsão transformada em vício de comprar é uma luta contra a incerteza aguda e contra um sentimento de insegurança incomodante. Os consumidores provavelmente estão correndo atrás de sensações agradáveis e reconfortantes. Mas também estão tentando escapar da agonia, do medo do erro, da incompetência. Por isso, o comprar compulsivo é um ritual diário para exorcizar essas terríveis aparições.

Livre para comprar – ou assim parece
As pessoas sofrem por não serem capazes de possuir o mundo de maneira suficientemente completa. Tendemos a ver as vidas dos outros como uma obra de arte e, assim, lutamos para fazer o mesmo. Isso que queremos moldar chama-se identidade. A busca da identidade é a incessante tentativa de solidificar o fluido e de dar forma ao disforme. Porém, as identidades parecem fixas e sólidas apenas quando vistas de fora. A identidade experimentada, vivida, só pode se manter unida com o adesivo da fantasia, do sonhar acordado. É a capacidade de “ir às compras”, de selecionar a própria identidade e de mantê-la enquanto desejo que se torna o verdadeiro caminho para a realização das fantasias de identidade. Com essa capacidade, parece sermos livres para fazer e desfazer identidades à volta. Compartilhar a dependência de consumidor é a condição da liberdade de ser diferente, de ter identidade. Além do ato da compra, é preciso levar em conta o poder que os meios de comunicação de massa exercem sobre a imaginação popular e individual. A vida na telinha diminui e tira o charme da vida vivida. Se coisas instáveis são a matéria-prima das identidades, é preciso manter a própria flexibilidade ao padrões do mundo exterior. Em relação ao panóptico de Foucault, a obediência aos padrões tende a ser alcançada hoje pela tentação e pela sedução, e não mais pela coerção.

20 de dez. de 2007



São tantos peixinhos
Mil lugares pra explorar
Se você for, eu acompanho
E aí? Quer tentar...?

**Bom, não sei se poderia, mas me atrevi a postar =)
Foi numa discussão em uma de nossas aulas que Lázaro me lembrou da analogia do aquário feita por kléber; depois da aula fui pra BICEN e no caminho pensei nessas quatro frases
Me veio na cabeça de fazer uma postagem e pôr uma foto
É isso.. ^^
Bjinhos e Sorrisos
Até a volta**