16 de abr. de 2008

Empresário falando de democracia...

Parece piada, quando li essa entrevista...
Lembrei imadiatamente das cartografias que viemos discutindo da qual Suely Rolnik comenta. Poder perceber certas dissonâncias do ato e de certas expressões se torna uma habilidade importante de se desenvolver, e com isso tentei pensar sobre alguns pontos dessa entrevista.
Por exemplo, o fato de um empresário estar falando de democracia, exatamente quem ostenta um certo poder financeiro, e sabe que a maioria exatamente é a que morre de fome e fala que tal povo é quem decidiria também por um 3º mandato ou não.
Ora, a entrevista está sendo feita com um empresário, por sua vez, não será que sua opinião é importante, o qual no final o entrevistador busca tal reposta de uma certa maneira quanto ao assunto tratado. Que democracia é essa? Será que existe ou vale de alguma coisa caso existisse? Ou será esse discurso conveniente para o empresariado?
Se houver consulta à sociedade e a sociedade aprovar, seria a vontade da maioria. Se a sociedade aprova que o presidente Lula merece um terceiro mandato, porque o projeto dele não está completo, e a sociedade está satisfeita com a forma de governo que Lula vem conduzindo o país durante oito anos, é democracia, meu Deus. (fala do empresário entrevistado - Lawrence Pih)
Outro ponto que me chamou atenção foi falar que não existiria melhor opção do que Lula, que aparentemente estaria bom do jeito que está para o empresariado, isso levando em conta a opnião do entrevistado, e tendo em vista as ações do presidente e sua intenções, seria então interessante um 3º mandato, mas será isso suficiente? Será que pensar que já tá bom do jeito que tá é a melhor posição? Essa postura, pelo menos, me fez pensar a apatia e conformidade diante das coisas, do novo, ou pelo novo, enfim, a coisa de evitar desesterritorializações e grandes turbulências, até porque, depois disso seria necessário rearrumar "novas máscaras".
FOLHA - Empresários querem o terceiro mandato? O sr. é voz isolada?
PIH - Muitos estão tendo resultados expressivos, estão vendo a estabilidade econômica e que o governo conduz com seriedade a economia. Acham que não seria ruim continuar as coisas como estão. Não dizem que apoiariam um terceiro mandato, mas veriam com bons olhos que as coisas fiquem como estão. Não têm do que reclamar.
E chama atenção também à questão antagônica do próprio do partido PT ter corrido atrás de conseguir seu respaldo de ambas as partes (empresariado e povo), fato confirmado na fala do entrevistado e assim confirma que o interesse mais do que da população e do empreseriado seria também daqueles que se encontram no poder.
FOLHA - A quem interessa agora o debate sobre o terceiro mandato?
PIH - Naturalmente, vejo o governo, o partido do presidente e a base aliada querendo manter as coisas como estão: se manter no poder. A oposição tem a obrigação de tentar obter o poder. O PT não quis ser oposição eternamente. Até usou de estratégias que não usava no passado para chegar ao poder.
[...] O Bolsa Família tem um aspecto importante, o crescimento econômico também. Hoje a população sente que está melhor do que oito anos atrás. Você não pode dizer que o governo usou o Bolsa Família para tentar cooptar o eleitor. O eleitor se sente bem ou não.
Nada nos impede de pensar que tudo é uma grande articulação de todas as partes: o empresariado que quer manter suas benesses e o governo petista que usufrui de sua posição mandatária. A palavra democracia parece um discurso conveniente. A sociedade de fato usufruiria também desse 3º mandato? Vale a pena pensar em continuar como está?
Basei-me na: Entrevista Folha de S. Paulo-Lawrence Pih 3º mandato para Lula é democrático se sociedade quiser, diz empresário - 13-04-2008