13 de jul. de 2007

Sobre a invenção do social 1

Rosane Neves da Silva é a autora desse livro que está sendo posto em discussão. Penso ser um livro importante pois busca inserir a psicologia social numa discussão da qual ela tem quase sempre se furtado. Uma discussão nova, mas não uma nova discussão. Ela é nova pois no campo dos saberes e práticas psi, ela tem sido negligenciada, entretanto não é uma nova discussão porque historicamente a necessidade desse tipo de problematização vem sendo denunciada por alguns pensadores da vida e das relações entre as pessoas, as coisas e o mundo. Por isso é preciso olhar para a proposta da Rosane de maneira crítica, para que após a leitura e a discussão, a gente possa avançar para observações e análises da realidade com esse instrumental epistemológico refletido e dado ao uso das nossas pesquisas.
Rosane inicia sua discussão requerendo de seus leitores a percepção de uma "genealogia do social". Para mim, ela traduz essa dimensão ao propor a ultrapassagem de um impasse, que aponta para a necessidade de "deixar de tomar o social como uma evidência e passar a constituí-lo como um problema" (14 p.). Vamos trabalhar com evidências ou vamos trabalhar com problematizações? O que são evidências? O que são problematizações?
Acho que essas três questões nos ajudam nessa trilha de percepção do social.
Assim Rosane toma o social como um objeto fluido, que é "produzido a partir de diferentes práticas humanas e que não cessa de se transformar ao longo do tempo" ( 15 p.). Atentem para aquilo que "não cessa de se transformar". Ora se é assim, a evidência é sempre precária. As coisas passam diante de nós. Então como querer que as coisas se reduzam a UMA COISA.
É um problema relativo a produção da verdade. Assim vamos tomar a verdade como evidência ou vamos tomar a verdade como problematização?
Rosane aponta que o dito senso comum está transitando entre ma coisa e outra, mas muitas vezes, quando fazemos referência a ele, não o percebemos assim. O pensamos como algo cristalizado. Pensar assim, certamente contribui para produzir uma verdade sobre o social numa dimensão absoluta e uma metodologia de aplicação onde o pesquisador assume um lugar de neutralidade em relação ao mundo.
Como vocês pensam isso em relação ao nosso trabalho e também em relação a formação que estão construindo na Psicologia-UFS?
Conversar sobre isso é necessário, aqui e sempre que possível.
Abraços!

9 comentários:

Técnicos, educadores e educandos do CRAS Enedina Bomfim disse...

Assim, esse capítulo faz várias pontes com o capítulo 3, que se atém mais minuciosamente a tratar da genealogia, e da necessidade de se pensar o social, necessidade de "deixar de tomar o social como uma evidência e passar a constituí-lo como um problema" (14 p.), sendo esse, acredito, a motivação da autora e da própria genealogia.

Quanto o social como evidência ou como problematização, não sei se já pensava assim antes, mas depois de ler meu capítulo e desse post, creio que o social só pode ser encarado como problematizações, e a necessidade de questionar sempre as naturalizações já estabelecidas. Posto que, como Kleber mesmo disse como tomar o social como evidência, como verdade se ele é múltiplo e composto de verdadeS?

dan disse...

Achei interessante o foco para o senso comum. É engraçado como vivemos dia após dia usando algo que chamamos de senso, que compartilhamos com toda a sociedade mas que, na verdade, não possui nenhuma definição clara. Tal senso possui definições para quase tudo. Mas até nas coisas que julgamos serem simples, as nossas definiçoes podem entrar em contradição num passe de mágica.

Só para exemplificar, o que o senso comum diz sobre a palavra "solteiro"? Solteiro é alguém que nunca se casou, isso é óbvio. Mas a obviedade desaparece quando encontramos um homem que vive a 5 anos com uma mulher e nunca se casou ou quando encontramos um homosexual que vive com seu parceiro, ou até com um cara que se casou com uma amiga só pra conseguir uma dispensa no exército (mesmo nunca tendo sequer beijado a amiga). Por mais que isso possa parecer besteira, nos mostra como nesses casos o senso comum dá lugar ao BOM-SENSO para julgarmos que em todos esses casos, o homem era de fato o contrário do que o senso comum dizia. E agora? se temos tamanha dificuldade com coisas simples, que dizer do senso comum que governa os nossos valores socias mais complexos.

ana maria disse...

danilo, acho que no seu post o que vc chama de bom-senso poderia ser outro nome para moral (ou ética?).

em relação à pergunta de kleber, eu vejo isso de "trânsito" do conhecimento e das verdades como uma coisa positiva, onde quer que seja. agora o que eu às vezes vejo é que esse trânsito da verdade acaba se tornando uma verdade cristalizada...entendem? que a verdade,o conhecimento, PRECISAM e ESTÃO INEGAVELMENTE em trânsito, e tal.. se cria uma evidência, a verdade se reduz a uma coisa: trânsito. é como se fosse um ciclo vicioso... mas nesse caso eu acho que é inevitável.

eu acho que pra acabar com esse negocio de neutraliade e absolutismo,o primeiro passo é parar de querer ditar verdades, inclusive de que ela não existe. mas eu acho que essa coisa de trânsito da verdade funciona bem pra isso, quando se percebe que aí não se está dizendo que ela não existe (nem que ela existe), mas apenas dizendo que ela transita (se existe ou não...=oP)

Nelma disse...

Comentando só para dizer que li o post e os três comentários acima. Depois que der uma segunda lida no meu capítulo, voltarei a comentar.

Marcus disse...

vamo lá...vou ser sintético

Uma verdade absoluta produzida sobre o social é tudo o que está em discussão(ao meu ver). E ela é possivel ou não?


O estado transitório a que Ligia faz menção em seu post sobre a verdade é o ponto chave. Produzir uma verdade absoluta para um fato social é arriscado e inescrupuloso.

O que Kleber deve estar tentando nos mostrar é o fato de sabermos distinguir até que ponto aquela verdade está em plenas condições de ser usada.

E se pensarmos o conhecimento como cristalizado estaremos admtindo, de certa forma, a neutralidade do pesquisador em relação ao mundo. E em nossa formação o importante é saber o que são evidencias e o que são problematizações.

E de alguma forma que eu ainda não sei como explanar eu admito o social como uma problematização. Até porque por mais que você queira enquadra-lo a sua moldura não será verossimlhante ao seu modelo inicial. Tá confuso né? Sei lá tb...

Eu acho a nossa formação vasta...e isso é interessante

abs =)

Kleber disse...

verdades ditas; ditaduras. tem a ver? verdades experiências: ? . Pequeno diagrama sobre os sentidos que a problematização pode assumir nas existências. Daí a história de se trabalhar com modos de subjetivação ou maneiras como as problematizações são produzidas.
Pensando o comentário de Lígia, lembrei da música construção de Chico Buarque. Conhecem. Tudo muito concreto na melodia, na letra. tudo muito exato na história. No último verso "morreu na contra-mão atrapalhando o tráfego". Acho que escancara essa questão. Por mais inflexível que seja o jeito de viver, há um tráfego, movivento e vias que vão prá lá e pra cá. pra bem antes de onde estamos.
abraço!

ana maria disse...

ei, kleber, você tá comparando meu comentário com a música, na questão da estrutura e dizendo que eu morri na contra-mão e atrapalhei o tráfego??? kkkkkkkkkkkkkkkkkk =oP

Kleber disse...

não foi isso que disse. o que é =oP ?
abraço!

Karyne disse...

já li, mas não me vem a mente nada p escrever, vou ler novamente, o texto e os comentários. xau