10 de dez. de 2007

Emancipação - cap 1 de Modernidade Líquida, Zygmunt Bauman (Resumo)

**Emancipação
Ao fim das três décadas que se seguiram à Segunda Guerra Mundial, época de prosperidade, de uma sociedade rica e poderosa, apresentou-se como problema o dever de emancipação, não a libertação em si, mas a falta de desejo das pessoas para serem libertadas. Libertar-se significa sentir-se livre das limitações, ser livre para agir conforme os desejos. Uma ameaça que atormentava os filósofos era que as pessoas pudessem não querer ser livres, pelas dificuldades que o exercício da liberdade pode acarretar.

As bênçãos mistas da liberdade
A questão sobre a liberdade, se seria ela uma bênção ou uma maldição, assombrou pensadores durante a maior parte da era moderna, quando ficou claro que os que deveriam dela gozar relutavam em aceitá-la. Houve dois tipos de resposta à questão: a primeira lançando dúvidas sobre a prontidão do povo para a liberdade, e a segunda inclinando-se a aceitar que os homens podem estar certos quando questionam os benefícios que as liberdades podem trazer. Na perspectiva de Hobbes, depois desenvolvida por Durkheim, não há outro caminho para o indivíduo buscar a libertação senão submetendo-se à sociedade e seguindo suas normas. Padrões e rotinas fazem com que os homens saibam como agir na maior parte do tempo, e que raramente se encontrem em situações em que as decisões devem ser tomadas com a própria responsabilidade e sem o conhecimento das conseqüências.

As casualidades e a sorte cambiante da crítica
Para Cornelius Castoriadis o que está errado em nossa sociedade é que ela deixou de se questionar, não reconhece mais qualquer alternativa para si mesma. Mas isso não significa que tenha suprimido o pensamento crítico como tal, pelo contrário, fez da crítica da realidade e do que está posto uma parte inevitável e obrigatória da vida dos indivíduos. Mas a sociedade da modernidade fluida é inóspita à crítica, acomoda o pensamento e a ação críticos de modo que permaneça imune a suas conseqüências, saindo intacta e sem cicatrizes.
Atualmente temos a crítica ao estilo do consumidor, que veio substituir a crítica ao estilo do produtor. As causas da mudança estão ligadas à profunda transformação do espaço público, e do modo como a sociedade opera e se perpetua. A teoria crítica clássica, de Adorno e Horkheimer, insere-se no contexto de uma modernidade pesada, sólida, condensada e sistêmica, tendente ao totalitarismo. Um dos principais ícones dessa modernidade é a fábrica fordista, que reduzia a atividade humana a movimentos simples e rotineiros, excluindo a espontaneidade e iniciativa individual. A teoria crítica pretendia neutralizar e eliminar de vez a tendência totalitária da sociedade, buscando sobretudo a defesa da autonomia, da liberdade de escolha e da auto-afirmação humanas. A sociedade que entra no século XXI é moderna de um modo diferente da que entrou no século XX. A modernidade é marcada pela contínua modernização, por uma insaciável destruição criativa. Ser moderno significa ser incapaz de parar e de ficar parado, por causa da impossibilidade de alcançar a satisfação. Duas características fazem nossa modernidade nova e diferente: o colapso da antiga crença de que há um fim no caminho que andamos, um telos alcançável, e a desregulamentação e privatização das tarefas e deveres modernizantes.

O indivíduo em combate com o cidadão
A apresentação de seus membros como indivíduos é marca registrada da sociedade moderna. A individualização é uma atividade incessante e diária, e muda seu significado constantemente, assumindo novas formas. Ulrich Beck contribui para a compreensão do processo de individualização, através de diversas obras. A individualização consiste em transformar a identidade humana de um em uma tarefa, encarregando os atores da responsabilidade de realizar essa tarefa e das conseqüências de sua realização. Os indivíduos não mais nascem em suas identidades; precisam tornar-se o que já são, sendo esta uma característica da vida moderna. A modernidade antiga desacomodava para reacomodar, sendo essa reacomodação uma tarefa posta aos indivíduos. Os estamentos, a que se pertencia por hereditariedade, foram substituídos pelas classes. O pertencimento às classes era uma realização, deveria ser buscado, continuamente renovado, reconfirmado e testado na conduta diária. Os indivíduos com menos recursos tinham que compensar sua fraqueza individual pela força do numero, partindo para a ação coletiva, somando suas privações, que congelavam-se em interesses comuns. O coletivismo foi a primeira estratégia para aqueles incapazes de se auto-afirmar enquanto indivíduos. O que distingue essa individualização da individualização da segunda modernidade é a ausência de lugares para reacomodação, e os lugares que se apresentam são frágeis, e freqüentemente desaparecem antes que seja completado o trabalho de reacomodação. Tanto no estágio leve e fluido da modernidade quanto no sólido e pesado a individualização é uma fatalidade, não uma escolha. Os riscos e contradições são socialmente produzidos, mas o dever e a necessidade de enfrentá-los estão sendo individualizados. Atualmente, os problemas dos indivíduos podem ser semelhantes, mas não podem fundir-se para formar uma totalidade. Tocqueville afirma que a libertação das pessoas pode torná-las indiferentes. O indivíduo é o pior inimigo do cidadão, pois o cidadão busca seu próprio bem-estar através do bem-estar da cidade, enquanto o indivíduo tende a ser cético ou prudente em relação à causa comum. O outro lado da individualização parece ser a corrosão e lenta desintegração da cidadania. Os cuidados e preocupações dos indivíduos, enquanto indivíduos, enchem o espaço público, como seus únicos ocupantes legítimos, expulsando todo o resto. Assim, o público é colonizado pelo privado.

O compromisso da teoria crítica na sociedade dos indivíduos
Ser um indivíduo significa não ter ninguém a quem culpar pela própria miséria, não procurar as causas das próprias derrotas senão na própria indolência e preguiça, e não ter outro remédio senão tentar com mais determinação. Há demanda por cabides individuais onde os indivíduos possam pendurar coletivamente, ainda que por breve período, seus temores individuais. Há um grande abismo entre a condição de indivíduos de jure e suas chances de tornarem-se indivíduos de facto. Ele não pode ser transposto apenas por esforços individuais, pois é tarefa da Política. O abismo emergiu e cresceu por causa do esvaziamento do espaço público, e do lugar intermediário público/privado, onde problemas privados são traduzidos para linguagem das questões públicas, e soluções públicas para os problemas privados são buscadas, negociadas e acordadas. A tarefa da teoria crítica era defender a autonomia privada contra as tropas da “esfera pública”. Hoje sua tarefa é defender o domínio público, ou repovoar e reequipar o espaço público, que se esvazia rapidamente. Não é mais o público que tenta colonizar o privado; o que se dá é o contrário, o privado coloniza o público. O poder navega para longe do alcance do controle dos cidadãos, para a extraterritorialidade das redes eletrônicas. O espaço público está cada vez mais vazio de questões públicas, dessa forma as perspectivas de que o indivíduo de jure se torne indivíduo de facto parecem cada vez mais remotas.

****



Nota: Não sabia bem o que fazer, entre roteiro e fichamento, preferi resumir. Muita coisa ficou de fora. E o que ficou foi, provavelmente, por dificuldade de compreensão.

10 comentários:

Kleber disse...

Marcus, o texto está bom. é importante agora conectar essa leitura a nossa discussão, que assume faces de uma política de identificação, de consumo e de relações de amizade. O que esse texto pode estar a nos dizer, quando queremos saber das pessoas a importância de "possuir" uma identidade para sobreviver e/ou viver? Acho que sua apresentação amanhã pode começar por aí.
Abraço!

Juaum disse...

lido.

amanha discutimos, povo...

Bruna_ disse...

Lido!

os dois últimos subtítulos e suas explicações foram os meus preferidos :]

Até a discussão!

Beijos

Andressa disse...

Vou ler. Passar pro papel e tal. Inté

Lázaro disse...

Lido.

Mas, me veio uma duvidazinha.

> Ele fala que a liberdade alcançada em nossa sociedade nao "suprimiu o pensamento crítico". A crítica seria apenas "destentada", incapaz de afetar. Porém, tambem afirma o fim do sujeito como produto das instituiçoes sociais (como queriam Hobbes e Durkheim), pergunta:
A quem essa crítica "desdentada" se dirigiria, entao?

Abraços.

Karyne disse...

lido

Jade disse...

li.

Laura Regina disse...

lido, apesar de perder as explicações mais profundas...
:)

Anônimo disse...

Ótimo resumo, porém, péssima escolha de texto para se resumir.

Quando lido o capitulo por completo, persebe-se que o autor apoia uma sociedade individualis,ta, e que as pessoas devem ter medo de ser livres.

Típico neo-liberalista.

Anônimo disse...

Oi gostaria de saber se no blogger tem continuação dos subtítulos do capitulo I , muito bom o resumo fácil compreensão.
marcia_fdc@hotmail.com se puderem me responder.