28 de jan. de 2008

Reversível e inconstante

Antes havia uma “instituição cultural” que ditava um único caminho a ser seguido. Todos deveriam caminhar em uma única direção, a estrada principal era uma linha reta. Tinha-se, assim a hegemonia da cultura da transcendência.
Entretanto, o surgimento do mundo virtual permitiu que essa hegemonia fosse quebrada. Desse modo, a cultura da imanência pôde proliferar-se. Na cultura da imanência as estradas apresentam várias curvas, há múltiplas possibilidades de caminhos a serem seguidos. Todos esses caminhos estão conectados através de uma rede. Essa rede apresenta um fluxo constante e é esse fluxo que mantém a rede viva.
A solidez da cultura da transcendência deu lugar à fluidez da cultura da imanência. Não há constância, não há irreversibilidade. No mundo da cultura da imanência, a única coisa que é constante é a inconstância da constância.
Agora o valor de um produto cultural é dado por sua flexibilidade, por sua capacidade de mover-se dentro dessa rede, por sua capacidade de afetar o que está com ele conectado. Tem-se agora um jogo livre de conexões, o autor fala em natureza “anarqui-cultural” das redes digitais.
Como foi dito, os caminhos são múltiplos. Não há uma instituição para ditar o caminho a ser seguido, pode-se escolher por onde se quer andar. Sendo assim, é mais fácil se perder. Mas, agora ao “se perder” é possível, ao mesmo tempo, “se encontrar”.

12 comentários:

Anônimo disse...

Adorei o texto
=)

Pra variar, me lembrou muito Modernidade Líquida

Gostei muito do modo como colocou as redes, as conexões e a flexibilidade, ficou muito claro, pelo menos eu achei (esses conceitos não são tão simples de se relatar).

Uma coisa que ainda me atazana é o fato de que muitos autores afirmam que hoje não há mais quem determine o comportamento ou as escolhas.
É claro que agora se tem muitos mais caminhos, como Jade citou, mas acho que sempre tem algo que tenta nos capturar de forma que tente nos colocar em seu poder.
Acho que hoje ainda existem determinantes, mas agora de uma maneira diferente (como vimos em Foucault), essa idéia de liberdade e as várias escolhas que a sustentam tornam as coisas mais difíceis, mas mesmo assim acredito que algo disso ainda existe.

É isso..


Bjos e Sorrisos**

Andressa disse...

Bem interessante o texto qd vem tratar dessa fluidez das coisas. Como Rafaela disse, parece meio difícil acreditar que tudo seja tão livre, que os comportamentos não sejam determinados de alguma forma, mas acho que isso não descarta a possibilidade de fluidez, que pode acontecer, porém, limitada sob parametros já designados. E mesmo que existam ações verdadeiramente autênticas, elas podem ser capturadas, como disse Rafaela.
Mesmo assim o texto de Jade traz muito essa questão da flexibilidade, que poderemos contrapor com a extrema disciplina e posições estanques e hierarquicas de um modo de vida, diferente do que se falou dessa capacidade de locomover-se pela rede.
Mas oq me chamou mais atenção foram as concepções de Cultura imanente e transcendental. Fiquei viajando que essa última seria uma que se baseia em coisas foras do terreno, meio q deuses, e o outro se formaria a partir de uma vivência, existência, do vivido mesmo.
Bom, tá de viajar né? Inté galera

Karyne disse...

essa idéia de vários caminhos p se percorrer, ainda me provoca uma limitação...ainda tenho q escolher um caminho.Porém essas escolhas não são mais duras, elas são líquidas Tenho como mudar de caminho ou quem sabe acabar me perdendo entre os vários caminhos. A idéia de mudança, de não ter nada fixo, rígido é muito interessante. Mas diante de tantas opções posso acabar por nada escolher, percorrer vários caminhos e nunca me encontrar. é meio angustiante sabe. é como quando vc vai sair e tem várias blusas e nenhuma fica boa, e vc fica angustiado, mas se só tivesse uma blusa a angustia não existiria sabe, não haveria escolhas.
desculpe se viajei um pouco, mas essa idéias de vários caminhos me provoca bastante.
bjinhos...

Lázaro disse...

Num sei se Jade concorda, mas acho que Karine respondeu a você Rafinha. Lembra da discussao sobre o aquario? acho que aquela é a liberdade da cultura de imanencia: A de ter as blusas pra escolher ou pra nao escolher.
Na trascendencia tava tudo posto, definido, selado, determinado. O nobre era nobre mesmo que se tornasse miserável, a mulher deveria "aprender" como ser esposa, o homossexual deveriam negar sua opção.
Poderiam até existir mais de uma blusa, mas nao seria voce que decidiria qual usar;agora vc pode até mesmo decidir nao querer decidir nada - e se manter segura no seu aquario.

Anônimo disse...

Sim, sim, é uma saída de resposta...
Parece ser mais fácil pensar desse jeito, que até mesmo a não escolha é uma escolha.

Só não sei se pode denominar isso de escolha pessoal, entende?
Como se nada tivesse determinado você a não escolher

Oo
Será que eu tô anadando em círculos?
Hehehe

=***

Lázaro disse...

Nenhuma escolha é pessoal, Rafa. Seria inocência pensar desse jeito.
O que aparece de novo é que entre as opções - agora - parece possível "escolher". Nao se trata de LIVRE ARBÍTRIO se trata apenas do ARBÍTRIO. compliquei?

Anônimo disse...

Não, melhorou sim
Relamente se eu pensar da maneira como tava encarando, nunca chegaria a lugar nenhum..porque não existe escolas, realmente

=)

Gostei
Quer ser meu professor?
Heheheheheheh

Andressa disse...

Acho assim gente, escolhas existem, mas vocês querem dizer que não é livre pq já de antemão são limitadas, mas nem por isso deixam de ser pessoais, afinal, são suas, e você quem tem a escolha de até mesmo não escolher. É isso... Inté

Juaum disse...

o problema que vejo é a escolha, assim como as pessoas andaram falando aí em cima. a escolha joga o peso no individuo, mais ou menos assim, vc tem vários "caminhos" pra percorrer mas tem que escolher um deles... isso provoca angústia e adoecimento em muita gente, tenho exemplos palpáveis de pessoas ao meu redor que simplesmente não conseguiam escolher entre um picolé e outro.

mas mudando um pouco de assunto, essa coisa de "caminho;' me incomoda um tanto... me dá a ideia de uma escolha entre algo já pré-fabricado, pré-existente, vc ainda consegue mudar de caminho mas mesmo assim não tem autonomia além da própria escolha. é um risco, pra mim meio que une a vida sólida e determinada de antes com a angusta da escolha entre elas.. o que vcs acham sobre isso?

Juaum disse...

ps:só pra completar o que quis dizer na ultima frase...
é um risco deixar de correr riscos.

Jade disse...

não vejo caminho como algo pré-fabricado... eu acho que o caminho quem faz é você dentro de certas limitações...
quando você não sabe escolher o sabor do picolé, ao menos você sabe que quer um picolé... o pior é não saber se casa ou se compra uma bicicleta... mas o bom é que agora você pode casar montada em uma bicicleta, ou não...

o que eu falei em relação a se encontrar, eu não quis dizer que agora se encontrar é mais fácil... o que eu quis dizer é que agora o caminho pra o encontro é mais acessível... porque ele não é o caminho, é um caminho... antes era O caminho e algumas pessoas saíram dele e se encontraram, mas as pessoas não viram isso com um encontro... agora você pode se perder e se encontrar e provavelmente ninguém vai dar a mínima pra isso... o encontro hoje ao mesmo tempo que está mais perto, está mais longe de você, porque agora você tem uma grande possibilidade de escolha e essa viagem até o encontro pode ser bem demorada, ou nunca ter fim...

Lázaro disse...

... Putz! Muito boa Jade. Até fiquei angustiado com o "ou nunca ter fim..."