Globalização: ligação de mundos distantes, integração, troca; quando alcançou a tecnolgia e a economia, essa simples palavra se transformou no motor do mundo moderno. mas a globalização pode atingir ainda mais fundo, não promover apenas a comunicação de Toquio e Brasília, mas também atingir o que as pessoas achavam ter de mais concreto num novo mundo onde tudo se transforma: sua identidade.
A moderna globalização provoca dois movimentos, um, onde as identidades são atingidas por suas novidades e intensas transformações, no qual se perdem e são forçadas a renovar-se; no outro, o problema de virar um "nada" e a insistência em estabelecer uma referência, uma identidade, são constantemente expostos a quem é atingido por tantas transformações. A mesma modernidade que renova quer impor uma estabilidade que ninguém é capaz de manter.
Esse duplo movimento faz as transformações nas tão amadas identidades parecerem monstros da modernidade que querem arrancar cabeças, deixando todos sem algo no que apoiarem sua estimada subjetividade. Contra essa possível eliminação "do que eu sou", as pessoas buscam diferentes caminhos. Todos eles levam ao mesmo horizonte, a anestesia contra a mudança e o pensamento de esvaziamento de identidade; todos esses caminhos mantêm uma "ilusão identitária" de algo fixo que não é mais capaz de existir.Qual é a receita para esse mal-estar? Drogas, de todos os tipos: farmacológicas, lícitas, ilícitas; televisivas, imagens publicizadas e transformadas em ícones, ideais; produtos que promovam a transformação nesses ícones.
Porém, como todos sabem, o melhor caminho quase sempre é o mais difícil, e buscar se encaixar em um desses "perfis-padrão" que a globalização cria para modelar as figuras de cada um não é o melhor deles. O caminho é o enfretamento do vazio, como um adolescente, experimentar a falta de significado e, já que se tem tantos para escolher, no fim, quem sabe, encontrar algum.
Rolnik, S. (1997) "Toxicômanos de Identidade. Subjetividade em tempo de globalização", pp. 19-24. Cultura e Subjetividade. Saberes Nômades. Org. Daniel Lins. Campinas: Papirus.
Disponível em
Acesso em 19 de Fevereiro de 2008