19 de jun. de 2007

Capítulo IV - Comunicação e Produção da Subjetividade


O presente capítulo vem tratar da relação feita entre os Meios de comunicação de massa e a produção de subjetividade, tendo por ponto de partida o desenvolvimento do capitalismo moderno que afeta as relações de produção e por sua vez determina a construção de uma subjetividade.

Essa subjetividade fabricada, modelada, recebida e consumida atinge o inconsciente dos indivíduos, já que "são afetos produzidos, socialmente, pelo capitalismo moderno e estão diretamente relacionados com o modo dos indivíduos perceberem o mundo, de se "modelizarem" os comportamentos e de se articularem as suas relações sociais". Interessante notar que parece existir uma repetição a menção de modelagem da subjetividade, no Behaviorismo, enquanto que aqui se coloca por modelização, sendo a primeira explicada por aproximações sucessivas, e a segunda é quando a subjetividade é criada socialmente a partir de um processo de homogeneização. Esse processo se dá quando a "subjetividade capitalística" vem trazer uma idéia de individualidade, assim como de interioridade, tal como uma essência humana, pré-social. Este quadro retira o caráter transformador da sociedade, para no fim formar uma massa homogênea, porém estratificada individualmente, com o ideal de trabalhador livre.

Está-se falando de uma grande máquina - o capitalismo moderno - produzindo um "jeito de ser" tanto tanto a nível macropolítico - definindo questões sócio-político-econômico-culturais da sociedade - como a nível micropolítico do desejo - estes que permeiam os pequenos gestos do nosso cotidiano (o qual foi tratado no capítulo III sobre Psicanálise). Ou seja, respectivamente, tem-se, não só num plano representacional (consciência), como também planos semióticos heterogêneos (inconsciente) o qual é reduzida a um proceso de subjetivação dominante e cristalizado por conta do poder. Compreende-se a produção de uma micropolítica como a reprodução (ou não) dos modos de subjetivação dominante, tendo ao mesmo tempo os vetores de expressão criativa (de singularidades) que se delineiam.

Ao se tratar da produção inconsciente, o qual é reduzida aos processos de subjetivação dominante e cristalizada a partir de um poder instituido, Foucault é citado por tratar do conceito da mecânica do poder. O autor vem relatar que ela se expande por toda a sociedade nas formas mais regionais e concretas, por parte de instituições e tomando o corpo através de técnicas de dominação (muito se assemelha às técnicas behavioristas que condicionam o corpo e o apreendem a nível do comportamento). Nesse caso o corpo é dominado pela sociedade, quando penetrando pelo cotidiano, carcaterizado como micropoder, que atravessa as relações no microtecido social. Poder é considerado, por Foucault como um exercício, que se efetua, uma relação, que provoca resistências, porém nada fixo, mas sim com pontos móveis e transitórios que se distribuem por toda a estrutura social.

Adiante no texto, afim de se ter uma melhor visão da questão das formas de dependência, salienta-se que isso se deve ao fato de não só ser conseqüência de processos econômicos e sociais (que envolve forças produtivas, conflito de classes e estruturas ideológicas), como também envolve as relações de exploração e de dominação. Não é a toa que a produção da subjetividade se dá tanto a nível dos opressores como dos oprimidos. No entanto, tudo isso só não dá conta do mecanismo de sujeição da subjetividade que acontece na combinação complexa de técnicas de individuação - em que o a subjetividade tem por carcterística a interioridade e individualidade - e de procedimentos de totalização ou homogeneização já mencionado.

Daí, se aponta para a formação de uma massa que tanto é "indivíduo", como "sujeitos", sendo o primeiro caracterizado como despersonalizado, visto por um ideal igualitário capitalista (fruto da homogeneização) e o segundo resultado de um sistema hierarquizante e autoritário de códigos morais que regem as relações pessoais. Ao observar essa situação, percebe-se uma realidade vista como universal, porém tida para cada um como pessoal e circunstancial, que é construída exatamente pela concepção de mundo difundida, através dos Meios de Comunicação. Estes enraizam cada vez mais tais "modos de subjetivação", "intensidades de vida", "desejos", que são os produtores e agenciadores de sentidos de real, compreendendo que o real se cria no social, ou seja, somos co-produtores de nossa realidades e não só meras vítimas iludidas.

Tentando dar conta dessa idéia do desejo, é explicado no texto como movimentos intensivos que são expressados através da subjetividade, entendidas como modos de os indivíduos perceberem o mundo e articularem suas relações sociais. O desejo, de acordo com Rolnik, é um produtor de universos psicossociais, a partir de três movimentos: 1) por meio dos afetos - intensivo e inconsciente - com o poder de atração e repulsa; 2) quando afetos buscam exteriorizar - tomando corpo em matéria de expressão; 3) Com a formação de territórios existenciais - num plano visível, consciente, estando num aglomerado de diferentes matérias de expressão, onde os afetos se situam e se concretizam.

É exatamente ligando esse processo aos Meios de Comunicação que essa situação se configura, pois se utilizando da linguagem intensiva, que estabelece conexão direta entre as instâncias psíquicas (definem o modo de perceber e constuir o mundo) e o que é produzido pelo capitalismo. Por isso o desejo se torna uma intensidade nômade sempre à procura da linguagem para que possa se expressar. Assim o processo basicamente acontece quando a mídia capta as intensidades (que são movediças e mutantes), que são investidas de significados ao se criar uma linguagem onde o desejo se concretiza e acontece, daí a formar o desejo no social. Com isso o desejo perde ou anula seu anterior caráter ativo de possibilidade de produções singulares no social, que também faz perder a possibilidade de uma multiplicidade de singularidades revolucionárias. Tal fato aconteceu já que o desejo se vinculou a uma intensidade homogeneizadora de sentidos.

Portanto é possível afirmar que os Meios de Comunicação são um importante equipamento maquínico capitalístico, já que cria o indivíduo do capitalismo mundial integrado (globalizado), ao mesmo tempo produz uma massa desenraizada produtiva (ou seja um indivíduo que técnico, que não se importa com sua história, que esquece dela), o que mantém um sistema hierarquizante de produções. É através dos Meios de Comunicação, em que a massa social não se comunica, que se ratifica como um meio bastante eficiente na criação de códigos totalizantes de dominação.
No entanto, "os movimentos se desmancham e novos se articulam de forma independente", assim se coloca no texto, afim de mostrar que é possível burlar a interdição da mídia e desenvolver circuitos de comunicação auto-suficientes e de exteriorização intensiva de atualidade, que traz a oportunidade de potencialidade de ação capaz de fazer implodir ou explodir as estruturas institucionais hegemônicas. Da mesma maneira, a forma estética pode, enquanto intensidade criativa, não só socializar a memória, como também recuperar o potencial de transformação e construção do social, através da criação de uma outra linguagem transversal, transubjetiva e social.

4 comentários:

Andressa disse...

Eu publiquei esse texto HOJE dia 21/06/07. Acredito que tenha fixado aí em cima a data que coloquei no RASCUNHO. Só pra esclarecer... Inté

Kleber disse...

Bom texto Andressa. Acho que ele se torna uma referência importante para pensarmos a questão da Psicologia. pelo menos da maneira como leio as coisas. Penso que a coerência do texto poderia se desdobrar em exmplos. Algo próximo do que havia falado no comentário do post da Hérica. Ensaiar aqui mais alguma discussão e depois postar no Conversações. Eu, a tv e qualquer coisa. Vou começar a escrever algo assim e passo para vocês por e-mail. Abs.

Marcus disse...

Andressa só tive uma viagem nessa parte:

"É através dos Meios de Comunicação, EM QUE A MASSA SOCIAL NÃO SE COMUNICA, que se ratifica como um meio bastante eficiente na criação de códigos totalizantes de dominação."

Fiquei confuso ao tentar imaginar essa massa sem comunicatibilidade. Mesmo com todo o processo de dominação e do controle a que ela está imposta e blá blá blá...

tem como explanar um pouquito isso?!

é só isso mesmo, bom texto!
=))

Andressa disse...

Bom Marcus, acredito q nessa parte, o que se pretendeu destacar foi o fato de que muitos dos discursos propagados, disseminados, elaborados, são entendidos como formas de se restringir ações e pensamentos, daí a pouca possibilidade de real comunicação, já que mesmo q haja um ato de comunicar, toda ela estará velada num discurso pré-concebido ou no mínimo reproduzido. Daí a idéia de ser "códigos totalizantes de dominação", pois de fato dominam a subjetividade da sociedade. Espero ter esclarecido, se não, podemos colocar esse e outros pontos na discussão da reunião. Inté