5 de jul. de 2007

“Me sinto bebendo sólido e comendo liquido, pq simplesmente acabo de ler e não sei o que comentar..”

Essa frase poderia ser de qualquer um entre nós. Foi da Vanessa em uma outra postagem, aqui-agora é minha. Não para sempre, pois como dizia o poeta, “pra sempre, sempre acaba”.
Penso que nos cabe compreender melhor a frase que quase sempre se usa em diversas situações. Podemos usar os conceitos da Escola de Frankfurt, referentes ao texto que estamos trabalhando, podemos usar aquilo que ocupa nossos pensamentos e sensações. Podemos usar outros textos. O importante é a inquietação que essa frase pode produzir e precisa produzir entre nós.
Acho que não demos muita importância a ela, lá atrás. Andressa fez uma interpretação da mesma e até encaminhou uma possibilidade de entendimento para a história do “beber sólidos e comer líquidos”. Como o encaminhamento veio rápido, abro aqui de novo a dimensão polêmica que a frase possui, já que ela dá extensão a uma idéia ou pensamento, mas não consegue produzir outro sentido nessa extensão. Comenta sem comentar. Pode ser um pedido de ajuda, pode ser uma ironia ao texto posto, pode ser mil coisas outras. Entretanto ele foi apenas uma coisa.
Para o pessoal de Frankfurt, a Indústria Cultural (IC) confere as coisas um ar de semelhança. Isso talvez seja o seu pior. Simples; ao tornar o mundo muito semelhante, a tal IC não permite saídas à linguagem que foi instituída e que organiza os desejos e as necessidades. O sentimento de beber sólido e comer líquido naturaliza-se. Sair dessa situação, construir um lugar FORA dessa lógica, inviabiliza-se pelo costume já produzido.
Aos que mesmo assim tentam algo diferente, estabelece-se para esses o lugar do estigma, do marginal, do desORDEIRO. Os pensadores de Frankfurt buscavam denunciar e resistir ao fascismo que se implementava em políticas de governo na Europa e também na vida cotidiana, na relação entre as pessoas. É como se a escuta do FORA fosse abolida. Agora vale apenas a escuta do DENTRO, a escuta oficial.
Isso é trabalhar com a dimensão psicológica a tiracolo. Isso deve nos interessar, pois como já foi dito em outros textos nesse blog, a Psicologia esteve a serviço de práticas fascistas de modo disseminado. O mínimo de uma discussão é por isso em questão e tentar saber mais dessa história, para também se por em questão, como alguém que pratica a psicologia de modo diferenciado na vida social. Adiante então!

2 comentários:

Andressa disse...

Ai gente tinha digitado tanto coisa aqui antes, maior texto, mas acabei apertando outro troço e... foi pro beléléu!! Vou tentar recolocá-lo.(Enfim, tou P...!). Vamos lá!

Qto a frase do início do texto anterior de Kleber " beber sólido e comer líquido", sinceramente nunca a ouvi com tanta freqüencia. Mas acho interessante esse fato de que enquanto num momento utilizamos frases ou discursos afim de trazer inquietações, de outros, eles podem ser reutilizamos e ressignificados, retirando-se assim seu teor transgressor, crítico, reflexivo.

Mas é para tentar facilitar a compreensão do texto do cap5 que venho aqui principalmente. Ao se tratar da Indústria Cultural, de fato ela vem trazer a cultura tal como uma mercadoria, se apropriando daquilo que surge da sociedade de maneira peculiar, espontânea e diferente, a tornando "popular", comercializável. Essas mercdorias culturais tem por fim não só o lucro, como também a reprodução do sistema.

Essa indústria além de tornar a arte do povo em comércio, torna aquilo que é intrinseco de suas vidas, sua desgraças, seu cotidiano, em piada, em diversão (lembro da "A Grande Família", "A Diarista", entre outros...). Dessa forma ela retira a possibilidade de criticidade iante da realidade que se vive.

Porém não só isso acontece na Indústria Cultural. Ela também faz a "elaboração do cotidano", quando apresentam através das telenovelas e outros artifícios, a inserção de juízos de valores, de normas, regras de comportamento, orientações ou insinuações a serem seguidas. Seria também estas mesmas regras e normas disseminadas que respaldariam as classificações feitas daquilo que é e não é, do permitido ou não, do incluso ou não incluso, estavelecendo então esse lugar que Kleber coloca em seu texto de marginal, de desordem (contra um ordem vigente).

As possibilidades de discussão se tornem mais difíceis quando o poder de sedução da televisão e outros instrumentos se tornam tão fortes que apreendem e prendem os indivíduos de tal maneira que não mais se tem tempo para se reunir, além desses instrumentos fornecerem doses contínuas, intensas ou gradativas de explicações e ideologias.

Da mesma maneira podemos incluir a internet, já que muitos dos discursos disseminados no mesmo são também manipulados, orientados, para os usuários que possam acessar (esse termo usuário parece um pouco como com o de que usa droga, já que vicia). Não nego uma maior liberdade de incursão de críticas e denuncias na internet, porém estas mesmo podem também estar sendo enviesadas, pois tratam-se de discursos organizados que não promovem a reflexão de fato, por serem direcionados, globais, reprodutores.

Acredito que de certa forma na própria Psicologia há essa questão de ao tentar reintegrar o indivíduo a sociedade, para que seja mais um reprodutor,consumidor, peça da grande máquina capitalista; está-se também afirmando os paradigmas dessa sociedade que ele vive, afinal quer torná-lo apto a essa vida.

Essa cultura que se dissemina pelos diversos meios de comunicação ou atuações profíssionais, é colocada na apostila por "Cultura Afirmativa", sendo as informações, discursos, explicações de mundo e mensagens incrementadas por ideologias que tornam suportáveis as contradições do mundo. Afirma, portanto, "um mundo valioso, obrigatório para todos, que deve ser afirmado incondicionalmente".

Um outro fator interessante dessa Indústria Cultural que me chamou a atenção é a idéia de liberdade dada aqueles que compram de suas mercadorias, como se as mesmas fossem dar algo de autentico às pessoas. Porém nada mais são do que um grande repertório, no meio de um fechado e seleto campo de possibilidades controlados no "grande supermercado vivo", que vejo como uma grande caixa fechada.

Mas me parece que a Teoria Estética vem trazer não só o ar de crítica e fatalidade da sociedade, como também mostrar que a arte ainda tem em sua essência o caráter de negadora do real estabelecido, contestadora dessa realidade dada, conservando ainda o elemento essencial da criatividade e possibilidade do novo. No texto se dá o exemplo de que canções e músicas, principalmente de camadas populares estariam tentando protestar contra o mundo existente e anunciando um outro possível, ao negar e criticar as condições de barbárie.

Porém, sinto informar que me sinto fatídica. Ou seja, percebo que mesmo a canções consideradas populares perderam seu caráter transgressor, também perdem seu teor crítico e se transformam em mercadoria direcionadas ao consumo e lucro. Acaba se tornando mais um discurso capturado ou velado, esvaziado de conteúdo, de significado reflexivo e crítico.

É isso, aqui termino meu longo texto...hehehe Inté

Técnicos, educadores e educandos do CRAS Enedina Bomfim disse...

Enfim, achei o comentário de Andressa, muito bom mesmo...

É bem verdade, que a frase beber sólido e comer líquido não é tão corriqueira, mas o uso indistinto dessa realidade é fortíssimo. O sentido de não pensar, não refletir, não ter um olhar crítico em relação a tudo que é existente é muito mais presente na vida de todos (e aqui eu me incluo) do que a situação oposta. Eu mesma quando li o texto anterior de Kleber e não entendi e coloquei aquele comentário, poderia ter lido, relido, pensado, repensado, procurado o texto original e uma imensidão de outras alternativas para não beber o sólido e comer o líquido, mas não, escolhi isso, não sei bem se direta ou indiretamente. Estamos extremamente acostumados a aceitar muito facilmente tudo que nos é imposto. A facilidade de simplesmente não pensar é muito mais envolvente do que buscar formas de combater o imposto, muitas vezes articulamos isso aos outros, a famosa e manipuladora Globo, às vezes até a “forças superiores”, parece até que preferimos acreditar que existe um poder manipulador maior que nos domina do que aceitarmos que é sim possível se opor a essas forças, e transformar o marginal na tal cultura afirmativa.

É, tudo isso pode ser muito ideológico, e creio que realmente seja, mas e daí? A partir do momento que se é capaz de pensar na possibilidade da existência de um “poder superior”, de uma dominação de massa, de uma cultura afirmativa, da ausência de poder crítico e ainda pensar na ausência do pensar, estamos dando passos para evitar beber sólido e comer líquido. Antes de mais nada é preciso estar ciente de que isso existe, e que de fato as pessoas que tem acesso a essa possibilidade de “pensar” são uma pequena porção da sociedade, não se deve simplesmente culpar a massa restante e se sentir superior deve sim tentar mudar nem que para isso seja necessário nadar contra a maré.

Cabe a cada um do “entre nós” parar de não saber o que comentar (viu Vanessa? kkkkkkkkkk), de não aceitar tudo que nos dizem, de não se vender e querer ser vendido, porque de fato isso ocorre. Assim, muitas vezes concordamos com idéias que não são nossas e, aliás, que nunca seriam, mas a fim de agradar, de conseguir algo com essa concordância, nos vendemos. Não pensamos porque não queremos (às vezes, claro)... e mais uma vez culpamos o poder superior, a globo e seja lá quem for...

Acho que de fato, deixei meio de lado a questão da Indústria Cultural e definitivamente, não é porque não acredito no seu poder, e sim porque acho que é preciso pensar também na parcela de culpa que nós temos, sem esquecer é claro que esse poder é forte mesmo, mas que muitas vezes o culpamos demais, que é muito difícil nos desvencilharmos da cultura afirmativa, mas que por vezes nos utilizamos dela para nosso bem (ou mal...) ....

Infelizmente, toda essa lógica de raciocínio nos foi “imposta” e é constantemente reforçada por essa Indústria cultural...

Talvez tenha sido clichê demais...mas penso isso de verdade, e até ao escrever isso, fiquei pensando será que estou sendo hipócrita sabe?Porque se realmente esse poder superior não existe porque nos impedimos de pensar? De fato alguém domina, de fato a Globo tem um poder de manipulação estúpido, de fato as normas vigentes, os detentores do dinheiro, os “donos do mundo”, a lógica capitalista apontam direções, apontam o que está a margem e o que está dentro, de fato existe a psicologia do normal, existe a Glória Kalil no fantástico dizendo que não pode cortar o macarrão (e as pessoas de repente acham um absurdo cortá-lo), enfim, é difícil mesmo pensar mas temos que tentar...o pior mesmo é a síndrome da montanha russa, é a velocidade, é o efêmero, o proposto pelas indústrias culturais de curtíssima duração, que não nos dá tempo de pensar... e simplesmente quando eu estou pensando criticamente Gloria Kalil do domingo passado, ninguém lembra mais que foi imposto, e novamente vem ela e impõe mais...ou seja lá ela servindo a Globo que está a serviço da IC e etc.

É, nos resta, nadar contra a maré, correr atrás do tempo...pensar, pensar,pensar...e agir.Ah!!!E mais uma vez pensar...

=)