21 de jul. de 2007

Para desencaminhar o presente Psi - parte 2 "Futuro do Pretérito"

Tentando dar conta das idéias de experiência e temporalidade, a autora continua seu texto destacando comentários de Dean, quando o mesmo menciona que o que se entende de eventos e história são compatíveis, desde que os primeiros não sejam encarados como esquemas fixos como causa-efeito ou atrelados a significações preestabelecidas. Não é a toa que Foucault e outros historiadores defendem a aplicação da eventualização da disciplina historiográfica, que significaria fazer surgir a singularidade, fazer surgir as rupturas das evidências que suspostamente apoiam o saber e com isso também descobrir conexões, bloqueios, encontros, jogo de forças, estratégias, entre outros. Tendo em vista essa situação acontecer, a autora afirma que se é possível pensar em possíveis construções, denominando o conjunto de futuro do pretérito, que será em seguida melhor explicado.

De acordo com Conde, o evento pode ser entendido tanto como destino (fato consumado, funcionalizado, estruturalizado), como por contingência (raridade, singularidade, contingência). Levando em conta o primeiro caso, seria como se o evento fosse compreendido por regras, que ainda assim existiriam dois entendimentos alternativos: ou apriorismos sintáticos e/ou semânticos (que podem ser estruturas significantes imutáveis, determinações sociais ou dialéticas universalizantes), ou repetição/reforço de práticas determinadas. Mas pelo pensamento de Rajchman em relação a esse assunto, a autora destaca que para ele "nada nos determina a não ser o que nos acontece atualmente", inexistindo, com isso, causa, princípio ou finalidade preestabelecidos, últimos e universais.

Diante das pesquisas realizadas por Foucault que foram relatadas no livro "Genealogia e poder", coloca que estas pesquisas traziam uma interessante característica para o panorama cultural, político e intelectual daquele momento, que no caso é a "eficácia das ofensivas dispersas e descontínuas". Como exemplos, tem-se os discursos e práticas antipsiquiátricos que serviram de entrave ao funcionamento da instituição psiquiátrica; os ataques contra o aparelho judiciário e penal sob argumentos da luta de classes e de certa forma anarquistas, e também a perturbação de certos livros como o "Anti-Édipo", por ser autoreferente e não se atrelar a qualquer tradição teórica, institucional e/ou filosófica.

É apontando certas experiências como estas que Foucault estaria alertando sobre o efeito inibidor de teorias totalizantes e globais, além de um efeito de refreamento que age sobre a realidade, fazendo perceber sempre uma totalidade. Ou seja, estas pesquisas apontaram que há uma eficácia das críticas particulares e locais, já que produziam teorias autônomas, não centralizadas, sem necessariamente estar de acordo com um sistema comum que estabeleça sua validade diante da sociedade. Mas como se poderia organizar este tipo de crítica? Através do retorno do saber, ou melhor dizendo, com a insurreição dos saberes dominados. Estes saberes seriam os conteúdos históricos que foram sepultados, mascarados em certas coerências funcionais ou sistemas formais ou mesmo os saberes que foram considerados desqualificados, não competentes ou insuficientemente elaborados. No caso podemos observar que o saber dito verdadeiro, dentro dessa hierarquia, será o tipo científico, o que enfatiza o valor do especialista na sociedade, onde poderíamos incluir a posição dos psicólogos.

Para tal insurreição destes tipos de saberes, inclui tanto o saber histórico, estes dessingularizados no interior de sistemas de saber, quanto o de pessoas. Este, particiularmente, diz respeito a um saber que não é unanime, mas é diferencial, por se opor a todos os outros saberes ao seu redor. Por conta disso foi deixado de lado, ou mesmo subordinado. Por isso é que Foucault afirma a importância da crítica local, pois unindo esse dito saber sem valor na erudição, ou desqualificado pela hierarquia dos conhecimentos e das ciências, é antes de tudo o saber histórico da luta.

Conde defronta em seguida a afirmação de Barthes e a indagação-resposta de Arlette Farge à afirmação feita. O primeiro coloca que a história seria como um sonho, pois consegue conjulgar, sem assombro e convicção, a morte a e vida. Porém o segundo rebate indagando que como pode ser possível fazer tal conjulgação, dessa vez com assombro e convicção, de maneira que história não seja sonho. Isso faz pensar que história não poderia funcionar de outra forma, quer dizer, não se trata de ser sonho, algo ilusório, mas sim ativo, convicto e mesmo que com assombro, já que mesmo aquilo que desestabiliza deve ser encarado. (Inserção de entendimento de minha parte, podem retrucar...). A autora então completa com as palavras de Farge que história seria "um meio de se decidir quanto ao presente e, quem sabe, quanto ao futuro?", e a autora continua afirmando: "O futuro do presente se vê, assim, implicado no futuro do pretérito".

De acordo com a autora, Foucault chama atenção do quanto a história pode ter de estratégico, visto que é possível elaborar certas narrativas, ou mesmo encerrar as grandes, para que se constitua algo distinto do que se tem como desencantado ou quietista. Existiria uma "valiosa inquietação" ante ao que concebe "dado, coerente, óbvio, lógico, previsível, evidente, funcional ou nobremente científico". É possível observar com isso que Foucault não concorda com a cientificidade, mas ao contrário, com a possibilidade, de ao unir os saberes históricos e pessoais, produzir genealogias, que são consideradas "anti-ciências", já que tem a função de ir de encontro aos tais discursos totalizantes. Torna-se, então, uma postura de contariedade diante do que é dito estabelecido.

7 comentários:

Nelma disse...

Alguém pode confirmar o horário da reunião de amanhã?

Kleber disse...

lido. abraço!

Karyne disse...

lido, os dois.
:*

Andressa disse...

Bom gente, tentando fomentar alguma discussão, tiração de dúvida e afin, vou fazer alguns questionamentos para de pontos que acho pertinentes no texto...
Oq vcs acham da aaplicãção do artifício de eventualização? Não seria um desdobramento da devida problematização dos eventos?
Ora, se podemos entender evento ou como destino, ou como contingência, qual a diferença?
Como vcs acham que aconteceu ou acontece no nosso dia a dia esse efeito inibidor ou de refreamento de teorias globalizantes que ditam o nosso fazer e a atuação de críticas particulares e locais no cotidiano?
No caso seria a prtir desse movimento de críticas que há a insurreição dos saberes dominados e quais seriam eles e de que maneira?
Realmente a afirmação de Foucault sobre a história ter algo de estratégico, depende deq? Acredito que da nossa atuação, no sentido de nos inquietarmos, sermos problematizantes, observando o que tivemos na história de forma abalítica e unindo ao que se produz em termo de conhecimento entre as pessoas, averiguando o quão interessante pode ser a idéia, ao invés de simplesmente repudiar, assim como faz a ciência.
Não é oq acontece, por exemplo, com alguns tipos de atuações dentro da psicologia, vertentes holísticas acho,não sei bem desse assunto, que são colocados à margem.
Enfim, fechando esse comentário, é pensar que seria essa atitude de análise seja do saber histórico, seja do saber pessoal, unidos, gerarem as genealogias? Alguém se propõe a falar doq entende de genealogia?
Valeu galera! Inté

Kleber disse...

genealogia. estudo de onde as coisas se "originam". seria uma possibilidade de entendimento. nietzsche propôs outra. onde as coisas acontecem, melhor como as coisas acontecem
assim entendo genealogia; uma maneira de estudar/analisar como as coisas acontecem. aqui fiz uma simplificação. meu interesse é fazer com que pensem sobre o movimento que rompe com a causa suposta, com a essência apontada, com a raiz requerida. assim a genealogia será sempre mais abrangente e plural que a representação a qual se busca uma referência. sei que essa frase ficou complicada. pode ter ficado. mas psicólogo foi feito para lidar com complicação. será?

Andressa disse...

É né, o fato da psicologia ter tantas escolas, demonstra as diversas tentativas de lidar com o humano, que não só é complicado, como complexo.
Mas essa questão da genealogia ser a busca por entender como as coisas acontecem, no caso como vc mesmo falou Kleber, pelo que entendi, seria observar mesmo o movimento, o processo das coisas, que seria ir além dessa representação, classificação, ordenação feita pelos homens.

Técnicos, educadores e educandos do CRAS Enedina Bomfim disse...

Pois é, pelo pouco que sei..
genealogia seria extamente, como vcs disseram...estudar como as coisas acontecem, mas essas coisas se referem a tudo.
A genealogia estuda aquilo que para todos não se precisa estudar, quebra paradigmas e dicotomais..busca enteder a origem, desnaturaliza conceitos como por exemplo, reestudo o social, reconstruindo assim um contceito já naturalizado..enfim..eu entendo assim..=)