4 de nov. de 2007

A Solidificação dos Líquidos

Que os líquidos têm uma qualidade de “fluidez”, isto é certo; eles são capazes de modificar sua forma, ocupar espaços variados e não se fixam em uma ou outra determinação de espaço nem de tempo. Fluidos (ou líquidos) podem, ainda, contornar barreiras que têm o poder de deter sólidos. Enquanto os primeiros inundam espaços, dissolvem matérias; estes últimos limitam-se a permanecer como são, imutáveis, sem recursos.
Essas características parecem representar muito bem, metaforicamente falando, o momento histórico atual. A instabilidade, o desconforto, as mudanças, a fluidez, estão presentes nas atitudes, nas múltiplas opiniões, em qualquer manifestação que tenha um caráter social nos dias de hoje. Mas o início disso tudo está um pouco mais distante da nossa década, como nos mostra o texto: “Ser Leve e Líquido”, prfefácio do Livro “Modernidade Líquida”; desde a época do Manifesto Comunista fala-se em “derreter os sólidos”, o que mostra a insatisfação de um espírito moderno que se acha inadaptável ao momento em que se manifesta.
O que não se pode esquecer é que os estados físicos das substâncias mudam, de uma certa forma, também são “fluidos”. Na química, uma substância no estado líquido pode virar um sólido, depois derreter-se, evaporar; o que significa que também ocorre com os líquidos do nosso tempo a possibilidade de virarem gelo.
A liquidez da modernidade encontrou os seus antigos 'sólidos-base' já em um estado de desintegração; assim, além de derreter esses, solidificou outros, criou seus próprios sólidos. O derretimento dos sólidos antigos levou ao surgimento de uma sociedade 'economicamente líquida', o que dá o tom de fluidez e movimento são as variadas possibilidades de atuação no campo econnômico sem o entrave de questões como honra, família, ética. O que não significa, é claro, que se viva a liberação total; na verdade, essas questões citadas deixaram de ser consideradas obstáculos pois outras são criadas para ocupar seu lugar, mas, agora, de maneira racional.
Essa dita, racionalidade, mantém um sistema de determinações e regras tão rígido e sólido quanto antes, ou mais. O que se percebe é apenas uma mudança de alvo; se, por um lado, as questões familiares eram empecilho para a prosperidade da economia e, dessa forma, deveriam ser esquecidas, por outro, o conjunto de itens que dominam uma transação bancária podem, também, atrapalhar o desenvolvimento de algum negócio. O que se vê hoje não é a vantagem da liberdade, mas sim uma luta pela adaptação, que a modernidade dita fluida, maleável, determinou ao solidificar suas categorias e instituições.
É verdade que cada vez mais o tempo e o espaço tornam-se infinitos ao homem, ele os conquista e os modifica de diferentes – e, cada vez mais, profundas – formas. Mas é exatamente neles que a modernidade adquire sua força, na medida em que se aparenta ter mais liberdade (por causa das conquistas do tempo-espaço), se observa uma maior dominação (por causa das conquistas tempo-espaço) e um poder fluido e líquido, que transpõe barreiras físicas e derrete solidificações subjetivas. O domínio atinge a vontade, a vida é planejada para que se encaixe em uma determinada maneira de se viver, a qual é imposta e criada para disciplinar quem a escolhe. A fluidez deixa de significar mudança para exprimir a fuga e o ocultamento dos sólidos modernos.
Não se pode negar que desde a época do Manifesto Comunista até hoje mudou-se muita coisa, a vida ficou mais fácil, tudo se tornou mais acessível, as distâncias diminuíram, ou seja, é possível se ter muito mais do que as gerações anteriores tiveram. De uma certa maneira, mudou-se da água para o vinho...o que não significa que o vinho não congele.

9 comentários:

Juaum disse...

lido.
=)

Kleber disse...

li. abraço!

Herica França disse...

lidoo

Laura Regina disse...

lido!
gostei muito. consegui entender mais uns pontos do texto. soh ainda fiquei com duvidas com relação ao tempo/espaço; mas deixa esta pra reuniao desta semana...
:)

Andressa disse...

Li Rafa e gostei do final. Ficou poético! Inté

Karyne disse...

lido

Anônimo disse...

:D

Obrigada a quem leu e postou (e comentou)

Bjinhos :D

Anônimo disse...

oi,eu queria saber como ocorre a transformação de liquido para sólido

Anônimo disse...

Depende do que estamos falando.
Segundo o texto original, os líquidos, a liquidez (como uma "liberdade") que se tem hoje em dia oculta uma solidez que não aparece.

Algo sólido que determina como será esse líquido.
Se você pensar por essa perspectiva, um líquido está se transformando num sólido, pois tem algo de pré-determinado nele.

De uma maneira geral, falamos de uma tranformação quando algo que parece líquido, adaptável, múltiplo, se torna um determinante, algo que solidifica as opiniões, as ações, que não permite a transformação, o novo, a adaptação, mas que busca manter uma estrutura controlada.