2 de nov. de 2007

Interpretação do prefácio de Modernidade Líquida

“Tudo que é sólido se desmancha no ar”. Frase famosa do Manifesto do Partido Comunista de K. Marx e F. Engels (aput Zygmunt Bauman, pág. 09). Ali, naquelas poucas palavras, os autores estavam descrevendo um fenômeno que começava a surgir a olhos vistos na sociedade ocidental do século XIX, marcaria profundamente o séc. XX e reafirma-se como característica primordial do incipiente séc. XXI: a fluidez. A constante mudança; mutação dos corpos, regras e acontecimentos.

Sua função é a quebra de todos os sólidos, as marcas estabelecidas anteriormente pela sociedade e que já não mais servem para a nova organização totalmente capitalista. Deveriam ser aniquilados os entraves que impediam o aprimoramento do capitalismo. Mas, como não seria possível a manutenção da sociedade sem um suporte, novas bases têm de ser lançadas. Isto é, novos sólidos surgirão, porém mais fortes e de acordo com as regras do jogo econômico. Segundo Z. Bauman, a característica principal que se busca nestes novos sólidos é a durabilidade; porém, como obter tal performance, que está em total contradição à regra do mercado, a fluidez?
As primeiras quebras de sólidos foi àquelas relacionadas aos costumes familiares e leis de proteção ao empregado. Tais regras antigas iam de encontro ao livre comércio e à exploração do mercado e da força humana. Na verdade, é principalmente uma “limpeza dos entulhos” destes sólidos, que estavam se deteriorando havia algum tempo.

A nova base sólida, descrita por Marx, é a economia, que dita as transformações nos demais ramos da sociedade – a superestrutura (religião, família, educação, Estado, etc). É através da solidificação do fator econômico que os demais sólidos são destruídos, ou outros sólidos que poderiam competir pelo posto de maior importância são impedidos de crescer. Todo o sistema capitalista que se desenvolve tem como requisitos básicos fortalecer-se e não permitir que traços oponentes se instalem também.

Esta base só se manterá desta forma: não permitindo críticas ou formas de mudança estrutural. Até mesmo a maneira como o indivíduo é ensinado a observar a realidade visa cria-lo como um cordeirinho, alguém que não tem forças ou não quer se rebelar. O sujeito foi exercitado a considerar conceitos antes honrosos como ruins à sociedade: identidade, emancipação. Outras idéias, como tempo/espaço e trabalho foram reestruturadas, para um melhor encaixe nesta nova solidez. Tudo para tentar conseguir quebrar as noções de individualidade ou especificidade de algum grupo; é a lei da globalização, do mercado exigindo a ligação entre todos do planeta, para terem as mesmas características e demandas de produtos.

A fluidez talvez se encaixaria aqui, instigando as mudanças no desejar de algo; o novo é o melhor, e um desejo renovado surge a todo instante.

Esta liquefação trás conseqüências ao poder. Ele é posto em prática por uma maior ênfase no subordinado; antes, os subordinadores eram identificados através do poder, e constantemente vistos por isso; agora, na modernidade, são os dominados os visados pelo poder, rastreados e identificados por ele. Esta modificação, a desterritorialização do poder, tornou possível a inacessibilidade dos detentores verdadeiros dele, que manipulam os demais através da força do mercado e de sua influência na sociedade. É a era pós-Panóptica, onde não há necessidade de vários sólidos, apenas da força de dominação para manter a sociedade dócil e liquefeita na superfície, porém firme na base – composta de dinheiro, muito dinheiro.



PS: Gente, desculpa a demora. Realmente, tive alguns problemas com relação ao texto e a redação que deveria fazer em cima dele. Espero que consigam entender, porque ainda não organizei todas as idéias. Não sei se foi possível a percepção, mas vou expor mais claramente minha principal dúvida, que me fez recear pelo texto que escreveria: como estruturas ditas tão sólidas, sendo construídas pela modernidade, dariam espaço a serem também líquidas? Tentei buscar mais Marx, acho que ele tenta explicar isso com a idéia de estrutura e superestrutura. É isso mesmo?
:)

7 comentários:

Andressa disse...

Li e entendi seu texto. Acho q sua dúvida Laura eu tentaria explicar sendo essa base sólida, como um esqueleto ou uma grande caixa com suas regras e idéias de se gerir oq tem dentro. Dentro, uma das lógicas é apreender por essa efêmeridade das coisas, de que elas passam rápido, e acabam parecem dar impressão que temos uma liberdade de escolha mas não é bem assim, pq oq muito acontece é uma reprodução das coisas que aparecem e são distribuídas em termos de idéias, produtos. Ou seja, a lógica e base para tudo isso é fixa, mas oq mexe dentro dela é fluida, mas sob um mesmo prisma, geralmente reprodutor. Mas tb não pensemos que não surja nada novo. Pelo contrário, surge e muito, mas muitas das coisas novas e criativas que surgem são capturadas ou resignificadas para a lógica dominante de controle. Não sei se expliquei ou viajei mas, fica isso como uma colaboração. Inté

Juaum disse...

eu concordo com a andressa, no início o capitalismo se quis sólido, porém com mudanças político-socio-econômicas ele teve que se flexibilizar para não ser fagmentado. talvez tais mudanças tenham ocorrido após a descoberta de como os grandes capitalistas podiam ganhar dinheiro mais rapidamente através da especulação financeira, esse já é mais um lado do acontecimento pois mostra essa nova possibilidade de experiência temporal (imediatista) que imposta ou não, é consumida hoje em dia. talvez o que fica cristalizado ainda seja alguma espécie de invariável no discurso, lembrei de uma frasesinha famosa: Time is money.
enfim.

Kleber disse...

Oi gente. Li os 3 extos que falam da modernidade líquida. Gostei muito! Queria saber: como um ser líquido pode ser psicológico? Abraço grande!

Técnicos, educadores e educandos do CRAS Enedina Bomfim disse...

Lido.

Herica França disse...

lidoo

Jade disse...

eu achei legal você tentar explicar por Marx, acho que ficou bem claro...

Karyne disse...

lido