19 de mai. de 2008

Resenha - Cartografia Sentimental

ROLNIK, Suely. Cartografia sentimental: transformações contemporâneas do desejo. São Paulo: Estação Liberdade, 1989.

Capítulo I e II

O desejo é o maior ponto que se encontra em Rolnik. Ela o define como o processo de produção de universos psicossociais, os quais não totalizam, não são dados nem infinitos, mas que se desdobra em 3 movimentos simultâneos.

No primeiro movimento, enfoca o corpo vibrátil, o corpo sendo tocado pelo invisível das experiências. Nestas ultimas, os corpos são tomados por uma mistura e uma movimentação de afetos, de energia e de intensidades. A todo o momento, tais intensidades e jogo de afetos fazem com que nós busquemos formar máscaras para nos apresentarmos diante de uma situação que “simulam” nossa exteriorização, e que tomam o corpo em matérias de expressão. Nosso corpo tocado pelo invisível, então, percebe apenas a máscara resultante do movimento de simulação.

As intensidades experimentadas numa situação (a nível de exemplo, a autora se baseia numa situação-encontro) vão compondo um plano de consistência: os afetos tomam corpo, delineiam um território, mapeiam aquela situação e tudo que está contido nela. O corpo invisível percebe que tal composição é efeito de uma série de imperceptíveis processos de simulação. Esse processo de simulação vai caracterizar o segundo movimento, no sentido de “para onde as intensidades vão”, qual desdobramento elas vão tomar, se elas vingam ou se elas goram. Encontramos isso no terceiro movimento.

Se as intensidades não existem e estão sempre efetuadas em máscaras, elas podem representar um estado de graça, um devir, um campo magnético, algo que aposta no novo (aquilo que vinga). Aqui a máscara funciona como condutor de afeto, tem credibilidade, é viva e real. E do mesmo modo que as intensidades podem, ao contrário, esfriar, criar desconforto, perder a graça, contrair e enrijecer o corpo. A simulação que gora geralmente se dá, fala Rolnik, para evitar a sensação de desorientação e do medo de se despedaçar.

Durante o processo de produção do desejo, nesses movimentos imperceptíveis, o jogo de afetos e de intensidades pode proporcionar a criação de outras máscaras, na medida em que ele é o artifício para as realidades em que estamos e vamos viver . A procura pelo verdadeiro perde o sentido até aqui e, a única pergunta caberia é se os afetos estão ou não podendo passar.
A dinâmica das ondas e das vibrações desses afetos, o estado intensivo da potência de afetar e ser afetado desses corpos, o conjunto de afetos que os preenche a cada momento. A esta definição, Suely denomina a dimensão da latitude das experiências. E acrescenta que nessa dimensão, devemos encontrar o nosso fator de a(fe)tivação. Em outras palavras, aquilo que desperte nosso corpo, que nos permite a habitar o ilocalizável, aguçando a nossa sensibilidade.à latitude ambiente, e possibilitando que nós nos aproprie do espaço, do território. Estamos falando, então, que as cartografias vão se desenhando ao mesmo tempo em que os territórios vão tomando corpo: a produção do desejo e de realidade é ao mesmo tempo material, semiótica (atingindo o plano dos desejos) e social.

3 comentários:

Andressa disse...

Será que podemos dizer então que o ato de cartografar, ou seja eser afetado por condições históricas, intensidades de um momento, permitem ao mesmo tempo que possamos perceber melhor situações e por sua vez, problematizar condições existentes? Viajei com o fato de o cartógrafo ter maior capacidade de sentir mudanças, situações que deixam brechas para o questionar, ou seja problematizar, que deve requerer o afetar-se.

Herica França disse...

è andressa, acho que a cartografia, ou ser cartografo está bem no plano mesmo do sentir, do ser afetado e de perceber pela sensibilidade.... nao sei bem se a expressao "perceber melhor a situaçao" diz que o que seria, acho que podiamos falar em se deixar sentir uma experiencia,os movimentos que ela toma, essas coisas. e tambem, a autora sempre está tratando do invisivel e é por aí que o sentir da experiencia toma uma dimensao maior, eu acho né?

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