31 de jul. de 2007

RESENHA

Comunicação e controle social

Livro organizado por Pedrinho Guareschi em 1991.
Uma análise dos meios de comunicação de massa. Procura detectar os mecanismos ocultos responsáveis pela alienação dos indivíduos. O autor aborda temas como ideologia, consciência de massa e manipulação.





O livro em questão divide-se em cinco capítulos: A realidade da comunicação – visão geral do fenômeno; Comunicação, Gestalt e Behaviorismo; Comunicação e Psicanálise; Comunicação e Produção de Subjetividade; e Comunicação e Teoria Crítica.
O capítulo inicial dessa obra faz com que pensemos como a comunicação está presente na construção da realidade, na detenção do poder, na cultura, no próprio controle social e como ela modifica tudo isso e fomenta um novo ser humano.
Fala-se na construção da realidade a partir de o que é comunicado, veiculado, passa a existir e o que não o é cai no esquecimento, no vazio, passando assim a não ser mais realidade. A comunicação tem duplo poder de fazer uma coisa existir ou deixar de existir. Esse poder, aqui colocado, é algo que deve ser particularmente analisado. Afinal de contas, deter essa construção da realidade significa possuir certo poder. Poder esse sobre a existência das coisas, sobre difusão de idéias e sobre a opinião pública e sua criação. Possuir a comunicação possibilita definir os outros, definir alguns grupos sociais como sendo bons ou ruins, piores ou melhores, de acordo com os que detém o poder. Ter o rosto na televisão ou a voz no rádio faz com que se consiga ser eleito. A conclusão lógica para isso é que a voz que desponta e a imagem que aparece é a de alguém que passa a existir, como afirma Guareschi. E no momento de se dar o voto, escolhe-se aqueles que existem.
No campo da cultura é que de longe se percebe a importância fundamental da comunicação. Sendo os meios de comunicação indispensáveis tanto na criação como na transmissão, mudança, legitimação e reprodução de determinada cultura. Capazes, assim, de subjugar outras culturas.
Esse subjugue passa a exercer parte da constituição do controle social. Dominação estabelecida pela comunicação se faz a partir da interioridade da consciência do outro. E assim o dominador estabelece em cima do dominado uma condenação e uma estigmatização a prática da verdade. Desse modo, a verdade só será daquele que possuir o poder da comunicação e consequentemente terá o controle em suas mãos. Deve-se então deixar de falar em Meio de Comunicação Social para em meios de informação, a serviço do controle social.
O segundo capítulo vai relacionar o behaviorismo e a Gestalt com a comunicação social, pois elas julgam que os princípios básicos dessas teorias psicológicas permitem uma reflexão a cerca da comunicação. Os anúncios e os anunciantes passam a se utilizar mais fortemente destas teorias e de outras a partir do momento que informar sobre o produto simplesmente não funcionava mais para a venda destes, assim essas mensagens passaram agora a impulsionarem uma compra irracional.
As duas teorias enfatizam o ambiente, e as respostas e percepção do sujeito. Dessa forma, as duas servem à manipulação ou ao menos a possibilidade de manipular o sujeito e talvez por isso, são tão amplamente usadas pela comunicação social direta ou indiretamente e consciente ou inconscientemente. O importante aqui é perceber as ferramentas que casa sistema ou teoria utiliza pra emitir pareceres.
No terceiro capitulo, o da Psicanálise, temos essa compreensão de ferramenta sendo utilizada também. A autora desse capítulo, Neuza Guareschi, coloca que nada acontece por acaso. E especialmente nas propagandas é perceptível o quanto esse sistema é manuseado. Não que seja como uma receita de bolo, mas que essa utilização estabelece uma razão para ser praticada nas propagandas é fato.
Guareschi comenta ainda sobre a sociedade capitalista na qual vivemos, onde as relações entre as pessoas são de exploração e dominação, e que poucos são os que podem acompanhar o consumismo exacerbado que se implanta nesse tipo de sociedade. A autora diz que mesmo sem condições a maioria deseja aquilo que as propagandas nos mostram. É, então, neste momento que a pressão, isto é, a quantidade de energia despendida para satisfazer o instinto, é muito maior justamente naqueles que não possuem essa condição, este desgaste maior de energia na busca da satisfação, é a “fábrica” das frustrações, que por sua vez geram as angústias que deixam as pessoas confusas e até perturbadas psiquicamente. Essa questão remete ao intenso processo de individualização que se experimenta hoje.
O capítulo seguinte vem tratar da relação feita entre os Meios de comunicação de massa e a produção de subjetividade, tendo por ponto de partida o desenvolvimento do capitalismo moderno que afeta as relações de produção e por sua vez determina a construção de uma subjetividade. É exatamente ligando esse processo aos Meios de Comunicação que essa situação se configura, pois se utilizando da linguagem intensiva, que estabelece conexão direta entre as instâncias psíquicas (definem o modo de perceber e construir o mundo) e o que é produzido pelo capitalismo. Por isso o desejo se torna uma intensidade sempre à procura da linguagem para que possa se expressar. Assim o processo basicamente acontece quando a mídia capta as intensidades, que são investidas de significados ao se criar uma linguagem onde o desejo se concretiza e acontece. Com isso o desejo perde ou anula seu anterior caráter ativo de possibilidade de produções singulares no social, que também faz perder a possibilidade de uma multiplicidade de singularidades revolucionárias. Tal fato aconteceu já que o desejo se vinculou a uma intensidade pluralística de sentidos. Portanto,é possível afirmar que os Meios de Comunicação são um importante equipamento maquínico capitalístico, já que cria o indivíduo do capitalismo mundial integrado (globalizado), ao mesmo tempo produz uma massa desenraizada produtiva (ou seja um indivíduo que técnico, que não se importa com sua história, que esquece dela), o que mantém um sistema hierarquizante de produções.
Creio que os meios de comunicação difundem, sim, uma concepção de mundo. E dizer que o real se cria no social também está valendo. Porém, nem todo mundo produz sua própria realidade. Têm muitas vítimas iludidas, sem poder de crítica e sem ver no horizonte uma realidade que lhe seja própria.
Aqueles que se sujeitam a esse poder são oprimidos. Já aos opressores cabe a tarefa de definir. Definir grupos sociais como sendo bons ou ruins. Subjugar tudo aquilo que lhe for prejudicial. Desmerecer tais coisas pelo fato de ter ou não poder. Foucault considera o poder como "um exercício, que se efetua, uma relação, que provoca resistências, porém nada fixo, mas sim com pontos móveis e transitórios que se distribuem por toda a estrutura social.". E sendo móvel ele pode estar aqui ou ali. Desse modo maleável o poder é barganha pra aqueles que o possui.
E a pergunta que fica é instumentalizar a casta dominante é realmente o certo? Dar-lhes mais poderes para cada vez mais aumentar as diferenças sociais é justo?

3 comentários:

Kleber disse...

Oi Marcus, o texto está bom, mas precisamos acertar algumas coisas. Algumas vou falar agora, outras depois.
A primeira e vale para todos nós: PRECISAMOS NOS ACOSTUMAR COM A ABNT. Uma resenha publicada tem que ter essa preocupação.
Kleber a APA não serve? Serve, mas aqui no Br. um importante segmento da psicologia tomou a decisão de priorizar a ABNT. Por enquanto é com ela que vamos.
Tenho duas cartilhas que ajudam muito nesse esquema de normatização. Posso disponibilizar
ara xerox.
Adiante. Toda resenha precisa de um título. A sua e do Danilo está sem. Título não é coisa fácil de produzir, mas precisamos começar a praticar.
Um bom título é aquele que resume a intenção de um texto e ao mesmo tempo ressalta a sua importância.
No jornalismo, tive um disciplina onde a gente passou um mês só praticando títulos. Era um exercício legal. Acho que você e Danilo precisam procurar logo um título, bem como todos que estão incubidos de produzir uma.
Depois do Título, acho que poderíamos padronizar, colocaríamos a referência completa do texto que está sendo tratatado.
Em seguida, quem são os autores da resenha. Isso vale para todos.
Continuo noutro.
abs!

Kleber disse...

Marcus e Danilo,
num texto, pequeno ou grande, tem uma coisa da qual a gente n~ao pode escapar: quem está falando.
Exemplos do texto de vocês:

"O capítulo inicial dessa obra faz com que pensemos como a comunicação está presente na construção da realidade, na detenção do poder..."

"O capítulo seguinte vem tratar da relação feita entre os Meios de comunicação de massa e a produção de subjetividade..."

"Creio que os meios de comunicação difundem, sim, uma concepção de mundo".

Temos a 1a do singular e do plural e tb o infinitivo. O texto de vocês foi escrito a 4 mãos. A 1a do singular não cabe.
É importante acertar essa questão, bem como se os tempos verbais não são conflitantes. Numa nova leitura vou estar atendo a isso. Agora me passou.
Melhor, vou ler no impresso e depois venho pra cá e comento.
Abs!

Andressa disse...

Oi gente, não sei se poderia colocar as partes que achei dúbia, ou com certa dúvida, que poderiam ser melhor elaboradas, como por exemplo: "Esse poder, aqui colocado, é algo que deve ser particularmente analisado."> Onde começa a análise,onde ela esá no texto? é bom explicitar.
No trecho, "E no momento de se dar o voto, escolhe-se aqueles que existem."> que voto? bom especificar pra ficar claro.
No início da frase, "Esse subjugue passa ..."> acho q ficou estranho.

Sobre o segundo capítulo, acho q ficou tão conciso que não sei se ficou claro. Essa questão da manipulação, se de fato aparece no capítulo, acho q também é uma realidade das outras escolas psicológicas, até mesmo da produção da subjetividade do cap4. Mas é só um toque, de mencionar que se trata de uma ação, de manipular, comum a outras vertentes teóricas.

Achei legal a forma q vc resume o terceiro. Achei suficiente! hehehe

Na quarta, não entendi o que vc quis dizer na frase "Tal fato aconteceu já que o desejo se vinculou a uma intensidade pluralística de sentidos"> por que não sei como o desejo se vincula à intensidade pluralística de sentidos, não seria o contrário?
Ah, e essa frase que após vc colocar o trecho de Foucault sobre o poder como exercício, pontos móveis e tal, tem: "E sendo móvel ele pode estar aqui ou ali." hehehe achei engraçado mas, aqui e ali onde? hehehe melhor especificar.
Em "...poder é barganha pra aqueles que o possui..." acho que seria legal colocar que de fato geralmente tem esse poder, que são aqueles que dominam também os meios de comunicação e movimentam as opniões da mídia e assim manipula a massa.
Interessante seu questionamento de "instumentalizar a casta dominante" e "Dar-lhes mais poderes" em que poderia pensar nas teorias que mencionou no seu texto como Behaviorismo, Gestalt, Psicanálise e mesmo a de produção subjetiva que acabam sendo utilizadas sim para manter um regime de poder. Acaba tb entrando num assunto de neutralidade das teorias, bem interessante, de que será q essas teorias foram construidas sob neutralidade ou com intenção de ser usada para tal? O científico é neutro? Noussa, posso ter viajado agora no final mas, valeu!! Essas são só menções minhas, se não as achar interessantes, td bem! Qq coisa explico meus garranchos aí...Inté