19 de jan. de 2008

O "Bug" Capitalista

A satisfação do trabalho, a motivação para a escolha de uma carreira profissional, tudo isso parece perder-se dentro da malha capitalista de lucro e dinheiro. O sistema funciona como num "loop", um ciclo que se retroalimenta e que só precisa que alguém forneça seu código de existência. Não está em jogo a satisfação pessoal nem o sentido do fazer, mas sim, para quem e como se é preciso fazer. Trabalhar - e o fazer de uma forma geral - virou um fim que justifica vários meios, mas não o seu próprio; o porquê de exercer determinada profissão, o interesse em buscar novas formas de conhecimento, maneiras de crescer profissionalmente e pessoalmente, são tarefas secundárias, o princípio de tudo está em ser máquina. Ser máquina de trabalho, ser força produtiva e de consumo (ao mesmo tempo), sustentar o "loop". Mas um bom entendendor de informática sabe que se algum código é colocado de forma errada num "loop", as conseqüências serão desastrosas; como o mundo pôde perceber pela ameaça do "bug" - o "bug" acontece quando o "loop" (o ciclo) torna-se infinito, quando se comete um erro na programção do ciclo. O capitalismo é um "bug", algo que não pára, que deve manter um ciclo infinto e que consome as forças de quem o sustenta. Os trabalhadores são as máquinas sustentadoras do capitalismo, que o movimentam e o mantém, que são consumidas por ele como apenas forças, sem que exista qualquer preocupação com sua condição humana, de homem que deve ter bem-estar e satisfação; a prática profissional se transformou numa alimentadora de "bug", algo que move o ciclo do capitalismo. Mas, toda história tem seus heróis, e a esperança é ser "hacker", aquele que burla sistemas e quebra códigos. Estão faltando "hackers" na sociedade capitalista, capazes de mostrar ao homem trabalhador que ele é a prioridade enquanto produtor de conhecimento, não um sistema cíclico que o transforma em máquina de produção, para que o próprio homem possa pensar sobre qual o sentido do seu fazer. "Hackers" que não apenas destruam o que já existe, mas que construam coisas novas e que possam valorizar aquele que tem mais importância na construção do social - o homem.

8 comentários:

Juaum disse...

achei muito interessante essa analogia.. porém ela refere-se ao capitalismo "duro", imagino eu.. talvez o proprio capitalismo tenha arranjado uma forma de mover-se sem tanta previsibilidade quanto os ciclos propostos pelo capitalismo de trabalho... non sei se viajei.
essa questão dos hackers será tratada por mim e pela karine. será um diálogo interessante.
cuidem-se

Anônimo disse...

Sim João, é o que parece
No texto mesmo o autor não faz distinção, nós que vimos essa discussão aqui no Blog =)

Dá pra pensar desse jeito sim, parece referir-se ao movimento inicial do capitalismo

=**

Laura Regina disse...

adorei, rafinha!
interessante, um mesmo texto, a gente pessou parecido, mas acabamos seguindo caminhos diferentes! mas concordo contigo, a adorei a conclusão!!
:)

Andressa disse...

Poxa, li esse texto pensando em tanta coisa que li e tou lendo. Tipo, lembra a discussão da montanha russa que tem um "loop" tb. Tb uma leitura q tou fazendo sobre máquinas desejantes de Deleuze e no final, trata dessa coisa da máquina capitalista produzir coisas relacionadas ao capital, como o trabalho, o próprio capital, um movimento cíclico e tal. E essa questão dos hackers é interessante, pois mostra as brecha que o sistema capitalista dá, mas muitas vezes existem esses revolucionários sem causa que não sabem muito bem como usar de seus artifícios e formar novos meios de ser e agir e propagar tal idéia, mas não tomar como modelo, mas como um jeito de enxerfar que novas formas são possíveis. É isso... Inté

Anônimo disse...

Hehe

Gostei dos "revolucionários sem causa" =D

Acho que é isso que o texto propõe: pensar se o que estamos fazendo como "hackers" é realmente aquilo que precisa ser feito, ou como o autor mesmo diz, tem que saber que isso é feito.

Ele fala no fim do texto que não basta ser um "hacker" tem-se que ter consciência disso e fazer as coisas com esse objetivo claro: ser um "hacker", modificar

=)

Karyne disse...

lido

Lázaro disse...

Lindo, Rafinha!

Sempre brinco com uns amigos socialistas: digo a eles que adoro o capitalismo, mas odeio ser capitalista. quer dizer, a mim nao parece importante uma crítica vazia ao sitema, mas ao que ele faz conosco.
Quanto a ser hacker, é um movimento que parece ter se iniciado segundo a lógica "se nao posso com meu inimigo, me transmuto nele (em + ele)".

Jade disse...

adorei texto e as metáforas...