Estranho ano aquele, agora longínquo, 1998 quando viu-se concretizar uma nova forma de ativismo político, o hacktivismo. Antes se fazendo presente por ações isoladas, foi naquele ano que os hackers entraram na “guerra” subjetiva de maneira maciça, utilizando este novo espaço (o ciberespaço) a favor da luta pró-liberdade de expressão, pelos direitos humanos e maior justiça político-social. Estes eram os discursos que, de maneira geral perpassavam os vários e diferentes grupos ativistas através das ações de Desobediência Civil Eletrônica, tais quais invasões a sites para publicação de textos e imagens com mensagens de cunho político, “sit-ins” on-line¹ e até mesmo pichações com mensagens antiguerra em jogos on-line. Aquele foi o ano da criação de grupos e sites dedicados ao hacktivismo, que de maneira análoga aos ativistas de rua, nas ruas, estavam ocupando este novo espaço com a criação desta nova frente de batalha. Dez anos se passaram desde 1998 e, de acordo com Ricardo Rosas, o movimento só fez crescer.
Não devemos, porém, tomar 1998 como um ano desconectado, pois ele faz parte da historia da nossa sociedade de informação. Porém o que 1998 significa? Quais são, talvez, os indicativos que emergem junto aos movimentos?
Sugiro um possível caminho ao dizer que “ativismos” sempre existiram quando havia necessidade e principalmente possibilidade para que surgissem. Porém, ter chegado ao ciberespaço diz sobre uma necessidade de ocupar este novo lugar até então não atualizado por políticas deste tipo; diz sobre a possibilidade que este novo lugar traz de tornar público opiniões outras supostamente não capturadas pela lógica vigente. A internet confere organicidade ao computador dentro da história evolutiva do mesmo, porém os primeiros hackers eram impelidos por ímpetos de auto-estima num movimento egoísta e solitário de desbravamento da máquina e suas possibilidades. 1998 veio mostrar que essas práticas atingiram um estágio de maturação tal que transbordou em si e acabou por conectar-se a novos sentidos.
¹ Sit-in é uma prática não-violenta de protesto em que as pessoas se sentam barrando a passagem ou a entrada/saída de veículos ou pessoas. No caso on-line é provocado pelo congestionamento do acesso aos sites atacados.
21 de jan. de 2008
20 de jan. de 2008
O Trabalho deve ser fonte de Prazer
No capitalismo, o sustentáculo é o dinheiro, obtido sempre através de alguma forma de trabalho – seja verdadeiramente produzido ou uma simulação, como a bolsa de valores – e crescente por causa da tecnologia. Porém, o avanço tecnológico mostrou também seu lado mais negativo: o valor que o sujeito adquire não pelo que é, mas pelo que exerce (seu trabalho) ou até mesmo a falta dele – o desemprego.
Ao observar este cenário, em que a economia vigente dita as regras de ser somente feliz aquele que produz o máximo possível, é clamada uma revolta de todos aqueles que queiram fazer uma crítica voltada ao fundo do problema, às questões sociais, as mudanças descabidas de valores do que é preferencial. O autor denomina estas pessoas de hackers, por modificarem o sistema e introduzirem novos códigos, novos valores, novas concepções. O capitalismo deveria, então, ser destruído ou adquirir novas formas, com o trabalho valendo aquilo que proporciona, e não somente servir para gerar dinheiro; deve haver prazer, buscas de significações ou qualquer outra coisa que o homem deseje. Lembra bastante o que sugere Skinner em Walden II, onde afirma que o trabalho não deve ser a vida em si, mas apenas um sustentáculo físico (alimentação, vestuário, etc) que auxilie na procura da felicidade, na prática do que realmente dá prazer.
Ao observar este cenário, em que a economia vigente dita as regras de ser somente feliz aquele que produz o máximo possível, é clamada uma revolta de todos aqueles que queiram fazer uma crítica voltada ao fundo do problema, às questões sociais, as mudanças descabidas de valores do que é preferencial. O autor denomina estas pessoas de hackers, por modificarem o sistema e introduzirem novos códigos, novos valores, novas concepções. O capitalismo deveria, então, ser destruído ou adquirir novas formas, com o trabalho valendo aquilo que proporciona, e não somente servir para gerar dinheiro; deve haver prazer, buscas de significações ou qualquer outra coisa que o homem deseje. Lembra bastante o que sugere Skinner em Walden II, onde afirma que o trabalho não deve ser a vida em si, mas apenas um sustentáculo físico (alimentação, vestuário, etc) que auxilie na procura da felicidade, na prática do que realmente dá prazer.
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Critica Radical para Micreiros,
Li e Disse Isso
19 de jan. de 2008
O "Bug" Capitalista
A satisfação do trabalho, a motivação para a escolha de uma carreira profissional, tudo isso parece perder-se dentro da malha capitalista de lucro e dinheiro. O sistema funciona como num "loop", um ciclo que se retroalimenta e que só precisa que alguém forneça seu código de existência. Não está em jogo a satisfação pessoal nem o sentido do fazer, mas sim, para quem e como se é preciso fazer. Trabalhar - e o fazer de uma forma geral - virou um fim que justifica vários meios, mas não o seu próprio; o porquê de exercer determinada profissão, o interesse em buscar novas formas de conhecimento, maneiras de crescer profissionalmente e pessoalmente, são tarefas secundárias, o princípio de tudo está em ser máquina. Ser máquina de trabalho, ser força produtiva e de consumo (ao mesmo tempo), sustentar o "loop". Mas um bom entendendor de informática sabe que se algum código é colocado de forma errada num "loop", as conseqüências serão desastrosas; como o mundo pôde perceber pela ameaça do "bug" - o "bug" acontece quando o "loop" (o ciclo) torna-se infinito, quando se comete um erro na programção do ciclo. O capitalismo é um "bug", algo que não pára, que deve manter um ciclo infinto e que consome as forças de quem o sustenta. Os trabalhadores são as máquinas sustentadoras do capitalismo, que o movimentam e o mantém, que são consumidas por ele como apenas forças, sem que exista qualquer preocupação com sua condição humana, de homem que deve ter bem-estar e satisfação; a prática profissional se transformou numa alimentadora de "bug", algo que move o ciclo do capitalismo. Mas, toda história tem seus heróis, e a esperança é ser "hacker", aquele que burla sistemas e quebra códigos. Estão faltando "hackers" na sociedade capitalista, capazes de mostrar ao homem trabalhador que ele é a prioridade enquanto produtor de conhecimento, não um sistema cíclico que o transforma em máquina de produção, para que o próprio homem possa pensar sobre qual o sentido do seu fazer. "Hackers" que não apenas destruam o que já existe, mas que construam coisas novas e que possam valorizar aquele que tem mais importância na construção do social - o homem.
18 de jan. de 2008
Desmaterialização embriagada de Dionízio como forma apolínea de realidade
Li e disse isso:
O novo que olha para o velho para entender o que e como acontece? Nada disso. Mas sim, o novo que olha para o novo e visualiza: novas maneiras de se situar na realidade, novas relações... A desmaterialização.
Críticas são feitas, mas não àquilo que já se foi sim ao que se é. Há a busca de se explicar o caos dos novos tempos e, para isso, não há mais espaço para o passado, o que rege é o presente.
Regras sociais continuam a existir, mas agora o acaso entra em cena. Será ele o intermediador de encontros e não mais instituições ditadoras de morais e bons costumes. Determinismos, portanto, passam a não serem suficientes para que se estabeleçam relações.
O que hoje potencializa a convivência entre os homens é o virtual, enquanto que o orgânico é, a cada dia, desvalorizado. Simulações, os diversos papéis que se pode desempenhar através do ciberespaço instigam, atraem. A oferta de se experimentar múltiplas realidades fascina, não é verdade?
A desmedida e medida, o desequilíbrio e o equilíbrio, enfim, Dionízio e Apolo encontram-se por meio desta nova estrutura social. Aquilo que se esvai no ar, a desconcretização, o caos, ou seja, manifestações dionízeas deparam-se com uma tentativa apolínea de expressão como forma de realidade já que tenta-se organizar, criticar e explicar aquilo que é incompreensível.
Tá aí o que consegui tirar do texto
Beijos
O novo que olha para o velho para entender o que e como acontece? Nada disso. Mas sim, o novo que olha para o novo e visualiza: novas maneiras de se situar na realidade, novas relações... A desmaterialização.
Críticas são feitas, mas não àquilo que já se foi sim ao que se é. Há a busca de se explicar o caos dos novos tempos e, para isso, não há mais espaço para o passado, o que rege é o presente.
Regras sociais continuam a existir, mas agora o acaso entra em cena. Será ele o intermediador de encontros e não mais instituições ditadoras de morais e bons costumes. Determinismos, portanto, passam a não serem suficientes para que se estabeleçam relações.
O que hoje potencializa a convivência entre os homens é o virtual, enquanto que o orgânico é, a cada dia, desvalorizado. Simulações, os diversos papéis que se pode desempenhar através do ciberespaço instigam, atraem. A oferta de se experimentar múltiplas realidades fascina, não é verdade?
A desmedida e medida, o desequilíbrio e o equilíbrio, enfim, Dionízio e Apolo encontram-se por meio desta nova estrutura social. Aquilo que se esvai no ar, a desconcretização, o caos, ou seja, manifestações dionízeas deparam-se com uma tentativa apolínea de expressão como forma de realidade já que tenta-se organizar, criticar e explicar aquilo que é incompreensível.
Tá aí o que consegui tirar do texto
Beijos
8 de jan. de 2008
RUMO À IMORTALIDADE E À VIRTUALIDADE: Construção científico-tecnológica do homem pós-orgânico (Paula Sibilia)

Em oposição à tradição “prometéica”, que pensa a tecnologia como a possibilidade de estender e potencializar gradativamente as capacidades do corpo humano, a corrente fáustica enxerga na tecnociência a possibilidade de transcender a própria condição humana. O homem-pós-biológico estaria em condições de superar as limitações impostas pela sua organicidade, incluindo as doenças, o envelhecimento e até a morte. O “cyborg” seria o agente da sua própria evolução pós-orgânica. Entregue às novas cadências da tecnociência, o corpo humano parece ter perdido sua definição clássica, tornando-se permeável, manipulável, projetável. Mark Dery acrescenta que estamos em condições de transcender as limitações das espécies particulares, combinar e programar as virtudes de diferentes espécies, ou seja, a criação de novos seres transgênicos. Em outras palavras, o homem agora tem condições de se auto-criar, de produzir seu próprio corpo, administrando a sua pós-evolução, através do arsenal de artifícios da tecnociência. Que tipo de saber é esse, que faz do corpo humano um objeto da evolução pós-biológica? A título de provocação, a autora compara tal fenômeno com o famoso mito Frankenstein por ser aquele rapaz que conhecia o suficiente de magia para iniciar um processo, mas não o suficiente para interrompê-lo no momento apropriado.
A tradição fáustica constitui uma das linhas de pensamento sobre a técnica, que pode ser detectada nos textos de diversos autores dos séculos XIX e XX. Nela é possível detectar fortes tendências “gnósticas”, que rejeitam a organicidade e a materialidade do corpo humano, procurando um ideal ascético, artificial, virtual, imortal. A tradição fáustica esforça-se por desmascarar os argumentos prometéicos, afirmando que o caráter da ciência é essencialmente tecnológico tanto no plano conceitual quanto no ontológico. Existiria um “programa tecnológico oculto” no projeto científico, explica Martins. Apontando para uma ruptura com relação ao pensamento moderno, o sociólogo declara que o atual projeto tecnocientífico está norteado por um impulso insaciável e infinitista para a apropriação ilimitada da natureza, tanto exterior quanto interior ao corpo.
IMORTALIDADE: para além do TEMPO humano.

Várias limitações biológicas ligadas à materialidade do corpo humano pertencem ao eixo temporal da existência humana. A tendência fáustica, nesse sentido, está bem representada pelas atuais descobertas e projetos na área das biotecnologias (transgênicos, clonagem, genoma), que colocam o arsenal cientifico-tecnológica na luta contra o envelhecimento e a morte. Segundo o próprio Hermínio Martins, as biotecnologias criar novas formas de vida. É a vocação transcendentalista que enxerga no arsenal tecnocientífico a possibilidade de ultrapassar as limitações inerentes à condição humana.
Sibilia coloca que, segundo Martins, a tecnociência contemporânea redefine as antigas fronteiras de seres naturais como matéria puramente manipulável, instalando a criação de combinações do orgânico e do inorgânico, do natural e do artificial, do humano e do não-humano. Nesse marco, a sociedade atual assiste ao surgimento das mais variadas “visões tecnofânicas”, aspirantes a um saber quase divino, capaz de controlar a vida superando todas suas limitações tipicamente orgânicas. Inclusive a mais fatal de todas elas: a mortalidade. No processo de hibridização com as máquinas, o corpo humano poderia se livrar da sua natural finitude.
Sibilia coloca que, segundo Martins, a tecnociência contemporânea redefine as antigas fronteiras de seres naturais como matéria puramente manipulável, instalando a criação de combinações do orgânico e do inorgânico, do natural e do artificial, do humano e do não-humano. Nesse marco, a sociedade atual assiste ao surgimento das mais variadas “visões tecnofânicas”, aspirantes a um saber quase divino, capaz de controlar a vida superando todas suas limitações tipicamente orgânicas. Inclusive a mais fatal de todas elas: a mortalidade. No processo de hibridização com as máquinas, o corpo humano poderia se livrar da sua natural finitude.
VIRTUALIDADE: para além do ESPAÇO humano
Outro leque de limitações que as potencialidades orgânicas do corpo está inscrito no eixo espacial da existência. O atual “imperativo da conexão” representa esta tendência, estimulado pela abundante oferta de dispositivos e serviços da área informática e das telecomunicações. O corpo humano hoje é entendido como informação: ele é um banco de dados, um código, um conjunto de instruções programáveis. Nesse sentido, ele também pode sofrer upgrades, pois as criações tecnocientíficas prometem libertá-lo dos seus limites biológicos, obsoletos, superando assim a sua organicidade animal para se tornar mais compatível com o tecnocosmos que o circunda.
Estaríamos deixando de ser robôs para virarmos cyborgs? Enquanto o corpo-máquina, característico da era industrial, fica obsoleto, começa a surgir o corpo-informação, o sujeito da sociedade pós-industrial. Nesta nova face do capitalismo global, cuja base já não reside tanto nos produtos materiais quanto na informação, com a ênfase perpassada da produção para o consumo, assistimos a uma virtualização generalizada dos valores.
Neo-Gnosticismo
Transcender (radicalmente) a humanindade, intenção clara do texto, trata-se de ultrapassar os parâmetros básicos da condição humana (finitude, contingência, mortalidade, corporalidade, animalidade, limitação existencial) aparece até como uma das legitimações da tecno-ciência, conforme Hermínio Martins. É fáustico o tecno-transcendentalismo associado aos discursos sobre o nascente homem pós-biológico, e ele está notoriamente impregnado daquilo que Martins denomina gnosticismo científico-tecnológico: horror ao orgânico, repugnância pelo corpo, aversão pelo natural. A tecnologia informática e das telecomunicações parece disposta a realizar sonhos neo-gnósticos, pois, com a sua tendência virtualizante, a aparelhagem digital converte tudo em “informação”, inclusive os próprios corpos humanos.
O texto adota a terminologia proposta por Martins que é neognóstica esta rejeição da materialidade orgânica e esta vontade de “virar luz”, ultrapassando as limitações temporais e espaciais ligadas ao fato de sermos demasiadamente orgânicos. De acordo com esta tendência, então, estaríamos virando pós-orgânicos e, com isso, “pós-humanos”, apontando para a imortalidade e a virtualidade.
Dos “corpos dóceis” aos “corpos ligados”
Quais são as implicações políticas e econômicas destes processos, numa sociedade voltada para a produção de consumidores dos mercados globalizados? Que tipo de corpo e que tipo de sujeito estão sendo criados na nossa “sociedade tecnológica”? Parece-me que o que é aquilo que estaríamos nos tornando, ainda é uma pergunta sem resposta. O direcionamento da criação dos seres humanos é a grande interrogação que nos restaria.
Ao mudar o foco da produção para o consumo, a sociedade ocidental já não parece precisar tanto daqueles “corpos dóceis” destinados a alimentar aos serviços industriais, quanto de novos tipos de corpos dispostos a consumir os produtos pelo novo capitalismo de superprodução. Corpos que intimam com a tecnologia: corpos ligados, conectados, hiper-estimulados e aparelhados pela tecnociência, permanentemente ameaçados pela obsolescência; corpos fáusticos.
Sobre as sociedades de controle, indicou-nos Deleuze que as novas tecnologias inauguraram instâncias subjetivantes capazes de substituir as velhas instituições das sociedades disciplinares. Caberia refletir, então, acerca do papel desse novo sujeito aqui analisado, o homem biotecnológico e teleinformático de vocação fáustica. Quais seriam as suas limitações, e quais as suas opções de resistência e de criação? E, por fim, a grande indagação do “Como manter-se vivo?” - Replicante Roy (Blade Runner), aqui não é mais a mera questão, mas sim o porquê e para que se manter vivo, se tudo a que nos cabe ou a que nos é útil é manipulável, controlável; se podemos recriar, combinar, redefinir novas espécies ou ainda nosso próprios e novos corpos?
7 de jan. de 2008
MINITUARIZAÇÃO DO SENTIR VIRTUALIZADO: DA CONDIÇÃO HUMANA À CONDIÇÃO CYBORG
Helena Taveira vem trazer à tona principalmente com o seu texto a questão da fusão do tecnológico com o biológico, entre o orgânico e o mundo mecânico, a metamorfização do ser real com o ser virtual, ou seja, a maior cumplicidade na co-existência entre essas duas realidades. Vem problematizar a condição daquele que está na fronteira, ou seja, nós que nos vemos entre esses dois espaços e passamos por uma gama de modificações, que envolve tanto o corpo como as emoções, indagando ainda se o mundo mecânico seria um colaborador ou concorrente do ser humano.
O mundo passou por uma terceira revolução tecnológica, que fez crer no computador não mais uma simples máquina ou sistema, indo além principalmente depois da inserção da Internet. Aquilo que era visto como meramente eletrônico, passa a ter um caráter de subsistência, pois os utilizadores vão atrás desse meio, inserindo-se cada vez mais nessa cultura característica de um sistema tecnológico, que toma conta com suas linguagens e símbolos bastante específicos. É nesta revolução do acoplamento das tecnologias do mundo virtual aos limites do mundo real, produz uma reformulação das coordenadas espacio-temporais, associada a idéia de movimento, que fez superar a distância através da velocidade, sendo que aparentemente rejeitando o corpo. Mas não se trataria disso, pois autores como Claudia Giannetti afirma que Internet estaria não excluindo o corpo desse processo, mas dinamizando corpos.
No entanto, ao mesmo tempo em que se ratifica a absorção do tecnológico pelo orgânico, pensadores como Virilio possuem uma visão antagônica, com uma crítica clara a uma suposta supremacia das tecnologias inseridas no virtual sobre o real através das minituarização dos componentes do primeiro. Estaria se falando do declínio da presença física em proveito de uma presença imaterial e fantástica. Para Taveira, torna-se necessário desmistificar o pensamento apocalíptico de tal tecnofobia. Nesse caso, estaria se valorizando a mutação da composição orgânica em síntese numérica quando se inserir no mundo binário numa imaterialidade do corpo ou espectralidade. Poderia se pensar que o ser humano conseguiria adquirir atributos de um Deus divino, ou no mínimo poderia estar fascinado pelo deus-máquina. Mas na verdade o que se enfatiza aqui é a liberdade de ação e experimentação dessa nova entidade corpórea que será mais flexível, que acarretaria dentro desse processo não só uma perda da indentidade, pela reciclagem das diversas epidermes que pode corporalizar, como a total aniquilação do comprometimento, pois se eximiria de qualquer responsabilização pela subsistência do meio que vive momentaneamente (me lembrei dos hackers...).
As possibilidades que o virtual traz, com seu campo movediço, intinerante e flutuante; aliado a eliminação de algumas limitações “terrenas” na translação incorpórea do estar em qualquer parte em tempo real, faz pensar que o mundo já não nos é suficiente e a possibilidade de ultrapassar a histórica adequação ao sedentarismo, com o retorno do nomadismo. Giannetti ressalta que isso é possível principalmente pelas nossas capacidades naturais, a viagem mental, por mais que o corpo permaneça imóvel a mente pode navegar.
Ainda assim é estritamente necessário que o mundo virtual incorpore alguns traços comuns da nossa realidade, de maneira a se tornar mais complexo, utilizando da associação das tecnologias que atenua a passagem entre as duas realidades construída pelo fenômeno da interatividade, responsáveis pela transmutação de espectadores (participantes do mundo real) em utilizadores (participantes no mundo virtual). Existe até o esforço de mediações possíveis como captadores de sentidos, sensores e teledetectores provindas da produção microeletrônica, o que faz o ser humano um “homem-prótese”. Porém só a mente viaja, enquanto a matéria física não se desloca efetivamente. Mas se percebe em pesquisas realizadas com intuito de impossibilitar qualquer sensação no ser humano, que seja qual for a viagem que a mente queira fazer pelo mundo virtual, afetará incondicionalmente o corpo físico e terá sempre que enviar a este corpo físico o mais ínfimo sinal, para que ele possa se relacionar com o dispositivo intermediário que são o mouse, teclado, entre outros. Por isso, a relação do homem real com o mundo virtual com o processo de desmaterialização do corpo físico em corpo mental com todos os tipos de prolongamentos, contribui para a estreita relação de parceria visto serem fundamentais para a imagem humana sobreviver no mundo virtual.
Chegando a conclusão da perfeita inserção do mundo virtual no real, Taveira admite que se deva formar, pelo menos a nível corporal, uma si (ir)realidade homogênea, tendo em vista que o corpo seria uma unidade indivisível, já que as tecnologias tanto nos colonizou como nós as colonizamos. Com isso surge a questão: não estaríamos nos tornando cyborgs? Estaria se falando nesse sentido de um homogeneização do mundo real com o virtual, com o auxílio das já mencionadas, próteses e prolongamentos, que torna possível potenciar capacidades inatas que se viam até então como entidades pré-existentes e limitadas. Estaríamos então sendo substituídos por equivalentes eletrônicos? A autora Stelarc propõe com seu projeto “Stimbod” algo semelhante, em que parte do corpo estariam conectadas a sistemas de estimulação muscular, que torna possível mover uma parte do corpo a partir de uma cidade longínqua, ou seja, à distância pela rede. Tratar-se-ia de uma adaptação do corpo à máquina ou da máquina ao corpo? Leva-se em questão com essa discussão dois pontos intrigantes: um é o cyborg como um projeto de um corpo mais completo e outro do corpo ser fragmentado pela tecnologia. Ao mesmo tempo, está se colocando também em pauta as múltiplas potencialidades que um corpo pode adquirir, mas questiona-se a capacidade de controle.
Aliada a estes questionamentos, ainda quanto ao assunto da corporeidade, supõe-se a situação de se substituir o corpo mental por imputs e outputs, como meio de melhorar a atuação do ser humano no mundo virtual e expandir a sua consciência em tal realidade. Esta possibilidade não seria uma decisão, provavelmente, irreversível de desvanecimento e desmaterialização da experiência consciente e cognitiva, tão peculiar do ser humano? Mesmo que ainda não seja possível responder a essa pergunta, sabemos que ainda dependemos de nosso corpo para qualquer que seja a relação, ou no mundo real ou virtual e para almejar tal façanha seria necessário não só componentes sensoriais similares aos dos ser humano como de determinadas capacidades humanas que permitem que a máquina manipule uma diversidade de informação. Ora, estas questões não estão tratando apenas de uma biotecnologia, mas de uma bioética. Tal atitude de eugenismo (combinação de influências hereditárias e ambientais, afim de melhorar as qualidades físicas e morais da raça humana – Michaelis, 1998), aparece com freqüência em nossa sociedade contemporânea através das inúmeras possibilidades que a tecnociência fornece. Mesmo assim, o mente ainda permanece muito enraizada na territorialidade e por sua vez, o comportamento emocional ainda é específico do mundo real, nos fazendo perceber que nunca se poderá misturar completamente na virtualidade.
Mas será que é possível fazer um sistema tecnológico exprimir emoção? Será mesmo a emoção sentida por ele próprio? E se levarmos em conta o fato do ser humano sentir empatia por uma máquina? Essas questões me fazem lembrar do filme “O Homem Bicentenário”, interpretado pelo ator Robin Wiliams ou mesmo do filme AI – Inteligência Artificial que questionam se ser humano seria capaz de viver com andróides tal qual com um ser humano. Temas como esse mais uma vez mexem com a bioética, pois estaria se propondo incutir pacotes de emoções pré-definidas ou programas numa máquina fazendo com que um sistema binário fosse capaz de se emocionar, análogo ao humano. Apesar desse intuito, muito provavelmente a coisa funcionaria sob certos limites, existindo apenas, por parte das máquinas, o reconhecimento de expressões emocionais e por vias disso estes iriam responder com uma emoção pré-programada. Ainda assim, a situação parece completamente díspar de um mecanismo biológico do ser humano, pois não se chegaria a ter o inconsciente emocional ou mesmo a espontaneidade do processo emocional.
Já quanto a uma possibilidade de nos emocionarmos com um fluido binário que circule no espaço virtual, ainda existiria o impedimento da espontaneidade, já que esta seria constrangida pelos tais sistemas auto-organizados que se baseia pelo que já anteriormente lhe for atribuído. Assim, não bastaria mimetizar o processo emocional do ser humano, mas criar mecanismos verdadeiros de feedback, para que as emoções coincidam simultaneamente com as condições físicas e as exigências feitas pelo ambiente. De qualquer forma, as máquinas só poderão ter um sistema de mecanismos emocionais, e não sentimentos reais, mas que serviriam para proporcionar maior naturalidade e menos rigidez na ponte entre o homem e a máquina. Nesse sentido, se evitaria para que esta relação não fosse apenas um monólogo intercalado pelos tempos de respostas, tais como proporciona os softwares que são como entidades coletivamente massificadas.
Existiriam com esse incremento às máquinas, mecanismos que permitam um conhecimento e entrosamento mais peculiar e intimo com seu utilizador, buscando individualidade nos seus serviços. Preza-se também nesse processo, o equilíbrio não só entre o mecânico e o orgânico, homem e a máquina, mas também para que não ocorra nenhum sentimento de domínio ou pretensa por parte de um ou outro. Assim, em meio a tantas propostas e devidos cuidados, a relação entre o homem e a máquina, entre o orgânico e o tecnológico, demonstra não requerer um envolvimento tão significativo, apenas necessário, para que produza modificações pertinentes não na natureza do homem, mas na forma como ele vê a si próprio e ao meio que se relaciona com as máquinas. Desta maneira, não só se estará potencializando as máquinas, como quem dela usufrui.
O mundo passou por uma terceira revolução tecnológica, que fez crer no computador não mais uma simples máquina ou sistema, indo além principalmente depois da inserção da Internet. Aquilo que era visto como meramente eletrônico, passa a ter um caráter de subsistência, pois os utilizadores vão atrás desse meio, inserindo-se cada vez mais nessa cultura característica de um sistema tecnológico, que toma conta com suas linguagens e símbolos bastante específicos. É nesta revolução do acoplamento das tecnologias do mundo virtual aos limites do mundo real, produz uma reformulação das coordenadas espacio-temporais, associada a idéia de movimento, que fez superar a distância através da velocidade, sendo que aparentemente rejeitando o corpo. Mas não se trataria disso, pois autores como Claudia Giannetti afirma que Internet estaria não excluindo o corpo desse processo, mas dinamizando corpos.
No entanto, ao mesmo tempo em que se ratifica a absorção do tecnológico pelo orgânico, pensadores como Virilio possuem uma visão antagônica, com uma crítica clara a uma suposta supremacia das tecnologias inseridas no virtual sobre o real através das minituarização dos componentes do primeiro. Estaria se falando do declínio da presença física em proveito de uma presença imaterial e fantástica. Para Taveira, torna-se necessário desmistificar o pensamento apocalíptico de tal tecnofobia. Nesse caso, estaria se valorizando a mutação da composição orgânica em síntese numérica quando se inserir no mundo binário numa imaterialidade do corpo ou espectralidade. Poderia se pensar que o ser humano conseguiria adquirir atributos de um Deus divino, ou no mínimo poderia estar fascinado pelo deus-máquina. Mas na verdade o que se enfatiza aqui é a liberdade de ação e experimentação dessa nova entidade corpórea que será mais flexível, que acarretaria dentro desse processo não só uma perda da indentidade, pela reciclagem das diversas epidermes que pode corporalizar, como a total aniquilação do comprometimento, pois se eximiria de qualquer responsabilização pela subsistência do meio que vive momentaneamente (me lembrei dos hackers...).
As possibilidades que o virtual traz, com seu campo movediço, intinerante e flutuante; aliado a eliminação de algumas limitações “terrenas” na translação incorpórea do estar em qualquer parte em tempo real, faz pensar que o mundo já não nos é suficiente e a possibilidade de ultrapassar a histórica adequação ao sedentarismo, com o retorno do nomadismo. Giannetti ressalta que isso é possível principalmente pelas nossas capacidades naturais, a viagem mental, por mais que o corpo permaneça imóvel a mente pode navegar.
Ainda assim é estritamente necessário que o mundo virtual incorpore alguns traços comuns da nossa realidade, de maneira a se tornar mais complexo, utilizando da associação das tecnologias que atenua a passagem entre as duas realidades construída pelo fenômeno da interatividade, responsáveis pela transmutação de espectadores (participantes do mundo real) em utilizadores (participantes no mundo virtual). Existe até o esforço de mediações possíveis como captadores de sentidos, sensores e teledetectores provindas da produção microeletrônica, o que faz o ser humano um “homem-prótese”. Porém só a mente viaja, enquanto a matéria física não se desloca efetivamente. Mas se percebe em pesquisas realizadas com intuito de impossibilitar qualquer sensação no ser humano, que seja qual for a viagem que a mente queira fazer pelo mundo virtual, afetará incondicionalmente o corpo físico e terá sempre que enviar a este corpo físico o mais ínfimo sinal, para que ele possa se relacionar com o dispositivo intermediário que são o mouse, teclado, entre outros. Por isso, a relação do homem real com o mundo virtual com o processo de desmaterialização do corpo físico em corpo mental com todos os tipos de prolongamentos, contribui para a estreita relação de parceria visto serem fundamentais para a imagem humana sobreviver no mundo virtual.
Chegando a conclusão da perfeita inserção do mundo virtual no real, Taveira admite que se deva formar, pelo menos a nível corporal, uma si (ir)realidade homogênea, tendo em vista que o corpo seria uma unidade indivisível, já que as tecnologias tanto nos colonizou como nós as colonizamos. Com isso surge a questão: não estaríamos nos tornando cyborgs? Estaria se falando nesse sentido de um homogeneização do mundo real com o virtual, com o auxílio das já mencionadas, próteses e prolongamentos, que torna possível potenciar capacidades inatas que se viam até então como entidades pré-existentes e limitadas. Estaríamos então sendo substituídos por equivalentes eletrônicos? A autora Stelarc propõe com seu projeto “Stimbod” algo semelhante, em que parte do corpo estariam conectadas a sistemas de estimulação muscular, que torna possível mover uma parte do corpo a partir de uma cidade longínqua, ou seja, à distância pela rede. Tratar-se-ia de uma adaptação do corpo à máquina ou da máquina ao corpo? Leva-se em questão com essa discussão dois pontos intrigantes: um é o cyborg como um projeto de um corpo mais completo e outro do corpo ser fragmentado pela tecnologia. Ao mesmo tempo, está se colocando também em pauta as múltiplas potencialidades que um corpo pode adquirir, mas questiona-se a capacidade de controle.
Aliada a estes questionamentos, ainda quanto ao assunto da corporeidade, supõe-se a situação de se substituir o corpo mental por imputs e outputs, como meio de melhorar a atuação do ser humano no mundo virtual e expandir a sua consciência em tal realidade. Esta possibilidade não seria uma decisão, provavelmente, irreversível de desvanecimento e desmaterialização da experiência consciente e cognitiva, tão peculiar do ser humano? Mesmo que ainda não seja possível responder a essa pergunta, sabemos que ainda dependemos de nosso corpo para qualquer que seja a relação, ou no mundo real ou virtual e para almejar tal façanha seria necessário não só componentes sensoriais similares aos dos ser humano como de determinadas capacidades humanas que permitem que a máquina manipule uma diversidade de informação. Ora, estas questões não estão tratando apenas de uma biotecnologia, mas de uma bioética. Tal atitude de eugenismo (combinação de influências hereditárias e ambientais, afim de melhorar as qualidades físicas e morais da raça humana – Michaelis, 1998), aparece com freqüência em nossa sociedade contemporânea através das inúmeras possibilidades que a tecnociência fornece. Mesmo assim, o mente ainda permanece muito enraizada na territorialidade e por sua vez, o comportamento emocional ainda é específico do mundo real, nos fazendo perceber que nunca se poderá misturar completamente na virtualidade.
Mas será que é possível fazer um sistema tecnológico exprimir emoção? Será mesmo a emoção sentida por ele próprio? E se levarmos em conta o fato do ser humano sentir empatia por uma máquina? Essas questões me fazem lembrar do filme “O Homem Bicentenário”, interpretado pelo ator Robin Wiliams ou mesmo do filme AI – Inteligência Artificial que questionam se ser humano seria capaz de viver com andróides tal qual com um ser humano. Temas como esse mais uma vez mexem com a bioética, pois estaria se propondo incutir pacotes de emoções pré-definidas ou programas numa máquina fazendo com que um sistema binário fosse capaz de se emocionar, análogo ao humano. Apesar desse intuito, muito provavelmente a coisa funcionaria sob certos limites, existindo apenas, por parte das máquinas, o reconhecimento de expressões emocionais e por vias disso estes iriam responder com uma emoção pré-programada. Ainda assim, a situação parece completamente díspar de um mecanismo biológico do ser humano, pois não se chegaria a ter o inconsciente emocional ou mesmo a espontaneidade do processo emocional.
Já quanto a uma possibilidade de nos emocionarmos com um fluido binário que circule no espaço virtual, ainda existiria o impedimento da espontaneidade, já que esta seria constrangida pelos tais sistemas auto-organizados que se baseia pelo que já anteriormente lhe for atribuído. Assim, não bastaria mimetizar o processo emocional do ser humano, mas criar mecanismos verdadeiros de feedback, para que as emoções coincidam simultaneamente com as condições físicas e as exigências feitas pelo ambiente. De qualquer forma, as máquinas só poderão ter um sistema de mecanismos emocionais, e não sentimentos reais, mas que serviriam para proporcionar maior naturalidade e menos rigidez na ponte entre o homem e a máquina. Nesse sentido, se evitaria para que esta relação não fosse apenas um monólogo intercalado pelos tempos de respostas, tais como proporciona os softwares que são como entidades coletivamente massificadas.
Existiriam com esse incremento às máquinas, mecanismos que permitam um conhecimento e entrosamento mais peculiar e intimo com seu utilizador, buscando individualidade nos seus serviços. Preza-se também nesse processo, o equilíbrio não só entre o mecânico e o orgânico, homem e a máquina, mas também para que não ocorra nenhum sentimento de domínio ou pretensa por parte de um ou outro. Assim, em meio a tantas propostas e devidos cuidados, a relação entre o homem e a máquina, entre o orgânico e o tecnológico, demonstra não requerer um envolvimento tão significativo, apenas necessário, para que produza modificações pertinentes não na natureza do homem, mas na forma como ele vê a si próprio e ao meio que se relaciona com as máquinas. Desta maneira, não só se estará potencializando as máquinas, como quem dela usufrui.
5 de jan. de 2008
Foucault: amizade e experimentação e O doce sabor da amizade (Ortega)
Foucault: amizade e experimentação
Apesar de Foucault não ter feito nenhum tipo de análise arqueológico-genealógica, achava importante tal análise e já tinha algumas direções para a discussão da amizade. Uma delas é a de que diante das análises feitas da antiga estilística, da Antiguidade - a philia-amicitia, composta de tarefas, obrigações, coações e hierarquias – se interessava pela reabilitação e revalorização dessa práxis ascética. Estaria se falando numa amizade de espaço aberto para experimentar, ter multiplicidades de formas de vidas possíveis.
Foucault concentra-se principalmente na cultura homossexual ao se reportar a esse tipo de amizade. A homossexualidade traz a oportunidade de reabrir as virtualidades das relações e afetividades por causa da posição transversal a que se encontra e daí permitir posições diagonais no tecido social. As decisões sexuais possuem uma dimensão existencial capaz de transformar e criar formas de existência. Foucault acredita que ser homossexual e ser devir, e por sua vez, se concentra nessa cultura que seria, na visão dele, capaz de criar novas formas de existência. O hossexualismo, devido seu caráter minoritário, consegue efetuar um “devir criativo”para a construção de novas formas de relações, ou a criação de um novo “direito relacional”.
A partir desta reflexão sobre o fenômeno da amizade, Foucault nos remete a uma viragem não só ética, mas também estética, apontando para uma atualização da estilística da existência. A ética da amizade visa intensificar a experimentação, concentrando na percepção e aumento tanto do prazer próprio quanto do outro (do amigo). Tal ética seria um “programa vazio”, capaz de oferecer ferramentas para a criação de relações variáveis e multiformes, concebidas de forma individual, tendo cada um sua própria ética, não existindo necessariamente uma como correto.
Essa amizade seria uma relação agonística, sem forma, consenso ou violência. Agonística porque são relações livres que apontam para o desafio e incitação recíproca, e não para a submissão do outro. Trata-se de um jogo estratégico dentro das relações de poder com o mínimo de dominação, afim de um relacionamento intenso e móvel. Dentro dessa concepção de amizade foucaultiana, admite-se componentes como desigualdade, hierarquia, ruptura, de caráter eletivo, aristocrático, anti-social e de natureza desigual. A amizade nesse sentido estaria se opondo aos princípios democráticos que conduzem a uma codificação da amizade e se tornaria uma alternativa às formas de relacionamento prescritos e institucionalizados como a família ou matrimônio. E por conta disso é considerada uma ameaça à ordem social e por isso a amizade é canalizada a formas conhecidas com mecanismos de regulação para desativação do potencial transgressor. Quando regulada, a amizade fica voltada para o privado, em que instituições sociais são o que determinam seus limites e contribuem para limitar o número possível de relacionamentos, pois caso contrário, seria mais difícil administrar e controlar. Não é a toa que a dimensão ético-transgressiva da amizade decorre da recusa de formas impostas de relacionamento e subjetividade.
O projeto foucaultiano de uma ética de amizade pela atualização da estética da existência, permite ir além da auto-elaboração individual para uma dimensão coletiva, superando a tensão indivíduo-sociedade com a criação de um espaço intersticial (uma subjetividade coletiva), capaz de considerar as necessidades tanto individuais quanto coletivas. Tal projeto busca lugares para produção de subjetividade que vão longe do individualismo, de maneira a mostrar que as relações não se esgotam na família ou matrimônio. Porém, com a morte de Foucault, interrompeu-se as análises e sua ética acabou apontando unicamente a um caráter sexual na procura da intensificação do prazer, o que limita a proposta, apesar de Jurandir Freire Costa considerar esse prazer na visão de Foucault estar conotando práticas de liberdade. Ortega afirma que não se deve apegar a essa exclusividade sexual para se elaborar uma nova ética e política da amizade, procurando outras bases, tal como Arendt que acredita que se deva recuperar a confiança no espaço público e encorajar a vontade de agir.
Percebe-se, então, que existem três conceitos percorrendo a noção foucaultiana de amizade: “forma de vida”, “programa vazio” e “direito relacional”. A primeira estaria se tratando de um modo de vida compartilhado por indivíduos que se diferenciam pela idade, status, atividade social, entre outros. Esta forma de vida representa uma possibilidade de política nova, não fundada no privado que a muito foi incutida na biopolítica moderna seja na ideologia médico-científica, seja no aparelho conceitual pseudocientífico que visam o controle do corpo, doença, saúde, medicalização, além de outros conceitos. Já os conceitos de “programa vazio” e novo “direito relacional” mostram que as formas de relacionamento não se esgotam na família e no matrimônio, assim como não existe um pertencimento a determinados grupos sociais. Assim, a amizade seria um “programa vazio” ou forma de vida que tem inúmeras formas para assumir, aberta a muito mais imaginar, possibilitando que cada indivíduo possa inventar sua própria ética.
O Doce sabor da amizade
O sociólogo americano Richard Sennet afirma que a sociedade está impregnada pela tirania da intimidade através de uma vida pessoal desequilibrada, esvaziada da esfera pública. Há o entendimento por parte dele e demais autores de que, junto a esse pensamento, a proximidade teria uma conotação moral. A intimidade com isso estaria também contribuindo para a psicologização das categorias políticas, pois a autenticidade nas relações sociais seria medida pela proximidade com os outros, como forma de reproduzir as necessidades íntimas e psicológicas dos indivíduos.
Para reverter esse quadro, torna-se necessário uma distância dos indivíduos para que haja uma sociabilidade, tendo em vista que este é inversamente proporcional intimidade. Estaria se propondo em apostar na impessoalidade, na exterioridade, no fora, na diferença, na aceitação do outro. A interioridade, por sua vez, estaria ligada às idéias de precisão, duração e segurança, que conduz a uma autodestruição narcísica.
Dentro dessa ideologia da intimidade, traz à tona a “teoria da ação comunicativa”, que afirma estar todos os problemas ligados à falta de comunicação. A comunicação estaria dentro do conceito básico da moderna teoria da sociedade. Montaigne mesmo observou que ao invés de existir uma preocupação em conhecermos os outros, ocorre um maior esforço em se tornar conhecido, tal qual uma mercadoria.
Dessa maneira, a sociedade incita a fala, principalmente sobre o que há de mais intimo, como o sexo. Chega-se a situação de pagar a determinados indivíduos para se falar de si mesmo. Diante desse panorama é que se percebe a carência pelo cultivo do silêncio, como forma de sociabilidade. No entanto, são as forças repressivas contidas e construídas pela sociedade que força à expressão. Muitas vezes não se dá o direito de nada dizer. Próprio Foucault refletiu a importância do silêncio, que muito foi cultivado tanto no Oriente quanto na Antiguidade, como um modo particular de se relacionar com os outros. O silêncio, então, se torna uma ameaça, pois questiona os princípios da sociedade de comunicação, pois será como se fosse a voz do excluídos da comunicação, do diferente, do outro. Estaria também colaborando o silêncio na formação de uma nova ética da amizade, pois muitas vezes não se precisa dizer nada, tendo a palavra mais corrompendo a amizade, enquanto o silêncio a preserva.
A sociedade incita um desnudar-se emocionalmente por meio até mesmo de uma variedade de terapias Trata-se da psicologização da realidade social, que traz com isso a perda da civilidade, da capacidade criativa, daí a necessidade da distância. A distãncia era fomentada em certas sociedades como do Antigo Regime, que prezam também pela impessoalidade, aparência, urbanidade, polidez, máscara, teatralidade, jogo, ação, imaginação, duplicidade; ao invés da autenticidade, intimidade, sinceridade, transparência, unicidade, personalidade e efusão do sentimento, que acontece quando ávida pública é erodida. Não é a toa que “a sociedade íntima rouba dos homens sua espontaneidade” (Ortega, 2000, pág113), pois a procura pela autenticidade torna os indivíduos inartísticos. Com isso decompõe a civilidade, compreendida como o ato de tratar os outros como estranhos, usar uma máscara, cultivar a aparência, como modo de fugir da identidade. Para tanto se exige um grande controle de si para não deixar transparecer nos gestos as emoções. Seria incivilidade o ato de incomodar o outro com o próprio eu, como se impusesse a intimidade, um comportamento tido egoísta e narcisista de esquecimento do outro.
Apesar de Ortega afirmar a distância, isso não significa para ele a renuncie a relação e a comunicação, mas o fato de não utilizar o amigo para fortalecer a identidade e crenças. A sociedade que instiga o saber de si, impondo uma determinada subjetividade, teria no cultivo da distância a substituição da descoberta de si pela invenção de si, possibilitando a criação de infinitas formas de existência. A amizade seria o “programa vazio” de uma relação a criar que pode substituir a família no imaginário afetivo, não negando a família como instituição, mas seu monopólio no imaginário emocional. A liberdade de criação acontece no espaço entre os indivíduos, no mundo compartilhado. Mas fica a indagação de por que traduzir as relações de amizade em relações fraternais? Uma explicação seria por existir a tendência de adaptar o distante e desconhecido a algo familiar e próximo, através da analogia entre as descrições enfáticas e emotivas e relações de parentesco, que são consideradas mais significativas. Trata-se do medo da diferença, do indeterminado.
Assim a família tem seu significado tão enraizado como sendo um lugar forte ante a um mundo inóspito e estranho. Porém, através dessa idéia de parentesco, se destrói o político. Por isso a nova política e ética deve encorajar a vontade de agir, de pensar uma ainda não pensada, apontando para a criação de novas imagens e metáforas do pensamento, renunciando prescrever qualquer imagem dominante. A proposta de Ortega é, portanto, experimentar, romper, inaugurar o ainda não imaginado, criar novas formas de vida e comunidade. Seria uma resistência política, tendo por político o que Deleuze e Foucault afirmam, como sendo “procura e fomento de novas formas de subjetividade, de imagens e modelos para pensar e amar”. (ORTEGA, 2000, pág117). A amizade é tida como um exercício político, como uma nova forma de perceber o diferente baseado na “boa distância”, algo além da reciprocidade, proximidade ou identificação.
21 de dez. de 2007
Individualidade - cap 2 de Modernidade Líquida, Zygmunt Bauman (Resumo)
Em primeira análise, duas visões distópicas sobre o trágico futuro do mundo foram lembradas pelo autor: O mundo de George Orwel e o de Aldous Huxley. Eles compartilhavam de um pressentimento de um mundo controlado, da liberdade individual reduzida e rejeitada por pessoas treinadas a obedecer ordens e seguir rotinas estabelecidas. Ambos sentiram que a tragédia do mundo era seu ostensivo e incontrolável progresso rumo à separação entre os mais poderosos e remotos controladores e o resto, destituído de poder e controlado.
Capitalismo – pesado e leve / Tenho carro, posso viajar
As histórias de Orwell e Huxley poderiam ter sido classificados como “discurso de Joshua”, onde a ordem é a regra e a desordem, uma exceção. Aqui, o mundo é organizado e delimitado por fronteiras impenetráveis. Tudo serve a algum propósito, e a própria ordem é, ela mesma, seu próprio propósito. Deus a fez existir e a tarefa de projetar e servir à ordem cabe aos homens. O que sustentava o discurso de Joshua era o mundo fordista, um modelo de industrialização, acumulação e regulação, separando projeto de execução, liberdade de obediência.
O fordismo era a autoconsciência da sociedade moderna em sua fase “pesada”, “sólida”. Nesse estágio, capital, administração e trabalho estavam condenados a ficar juntos talvez para sempre. O capitalismo pesado era obcecado por volume, tamanho e fronteiras firmes impenetráveis.
Agora, o trabalho permanece tão imobilizado quanto no passado, mas o lugar em que ele imaginava estar fixado perdeu sua solidez. Alguns dos habitantes do mundo estão em movimento, para os demais é o mundo que se recusa a ficar parado. O discurso de Joshua, então, começa a soar vazio.
Na passagem do capitalismo pesado para o leve foi considerado um novo tipo de incerteza: não saber os fins, em lugar da incerteza tradicional de não saber os meios. O que está em pauta é considerar e decidir, diante dos riscos, quais dos flutuantes e sedutores fins devem ter prioridade. Ao contrário do pesado, o capitalismo leve tende a ser obcecado por valores, e a ver o mundo como uma coleção infinita de possibilidade. Assim, é a infinidade das oportunidades que preenche o espaço deixado vazio pelo desaparecimento das “torres de comando e de controle”: é o mundo pós-fordista, moderno fluido, dos indivíduos que escolhem em liberdade.
Tudo corre agora por conta do indivíduo. Cabe a ele descobrir o que é capaz de fazer, esticar essa capacidade ao máximo e escolher os fins a que essa capacidade poderia melhor servir. Para que as possibilidades continuem infinitas, nenhuma deve ser capaz de petrificar-se em realidade. Melhor que permaneçam líquidas, fluidas, finitas. Viver em meio a chances aparentemente infinitas tem o gosto doce da “liberdade de tornar-se qualquer um”. O tornar-se sugere que nada está acabado e temos tudo pela frente. A infelicidade dos consumidores deriva do excesso e não da falta da escolha. Caracteriza-se como uma alegria duvidosa, dada a incerteza perpétua e um desejo que nunca saciará.
Pare de me dizer; mostre-me! / A compulsão transformada em vício
Não faltam ainda pessoas que têm milhões de seguidores identificados pelo autor como conselheiros. O papel de um exemplo na sociedade tem a importância quando olhando para a experiência de outras pessoas, esperamos descobrir e localizar os problemas que causaram nossa própria infelicidade, dar-lhes um nome e, portanto, saber para onde olhar para encontrar meios de resistir a eles ou resolvê-los.
Uma celebridade é uma pessoa conhecida por ser muito conhecida. As celebridades com autoridade suficiente para fazer com que o que dizem seja digno de atenção mesmo antes que o digam são muito poucas para estrelar os inúmeros programas de entrevistas da TV, mas isso não impede que esses programas seja uma compulsão diária para milhões pessoas ávidas por aconselhamento. As pessoas “comuns” que aparecem na TV são tão desvalidas e infelizes quanto os espectadores. Seria equivocado condenar ou ridicularizar o vício dos programas de entrevistas como efeito da eterna avidez humana pela fofoca e da “curiosidade barata”. As lições retiradas desse programas respondem a uma demanda genuína e têm valor pragmático inegável, pois já sabemos que depende de nos mesmos fazer o melhor possível de nossas vidas.
Procurar exemplos, conselho é um vício e todos os vícios são auto-destrutivos, destroem a possibilidade de se chegar à satisfação. Exemplos são atraentes enquanto não-testados; a satisfação não duraria muito, pois no mundo dos consumidores as possibilidades são infinitas igualmente ao volume de objetos sedutores à disposição. Então, permanecer na corrida se torna o verdadeiro vício. Nenhum prêmio é suficientemente satisfatório para destituir a atração de outros prêmios O desejo se torna seu próprio propósito. O arquétipo dessa corrida particular é a atividade de comprar: esquadrinhar as possibilidades, examinar, tocar, sentir e manusear coisas. “Vamos às compras” pelo tipo de imagem que gostaríamos de vestir e por modos de fazer com que os outros acreditem que somos o que vestimos; pelos meios de extrair mais satisfação do amor; pelos recursos para fazer mais rápido o que temos a fazer. Essa lista não tem fim. O consumismo de hoje, porém, não diz respeito à satisfação das necessidades, mas ao desejo, o qual liga o consumo à auto-expressão, ao gosto e à discriminação.
Mas o consumismo atual não está fundado sobre a regulação dos desejos, mas sobre a liberação de fantasias desejosas. A história do consumismo é a quebra de sucessivos obstáculos “sólidos” que limitam a fantasia e reduzem o “princípio do prazer (PP)” ao que é dito pelo “princípio da realidade (PR)”. Um estimulante ainda poderoso para manter a demanda do consumidor é o “querer”, que é imediato e completa a libertação do PP, limpando os últimos resíduos dos impedimentos do PR.
O corpo do consumidor / Comprar como ritual de exorcismo
O principal cuidado é a adequação: estar sempre pronto, desenvolver novos desejos (insaciáveis). Se a sociedade de produtores coloca a saúde como o padrão de meta, a sociedade de consumidores tem seu ideal na aptidão. A saúde demarca os limites entre norma e anormalidade; é o estado próprio e desejável de corpo e espírito. Refere-se a uma condição corporal e psíquica que permite a satisfação das demandas do papel socialmente atribuído. O estado de aptidão é tudo menos sólido, seu verdadeiro teste fica sempre no futuro: “estar apto” significa ter um corpo flexível, ajustável, pronto para viver sensações ainda não testadas e imprevisíveis. A aptidão diz respeito a uma experiência subjetiva: a satisfação e o prazer são sensações precisam ser subjetivamente experimentadas.
O status de todas as normas (também da saúde) foi abalado numa sociedade de infinitas possibilidades. O que ontem era considerável normal e satisfatório, hoje pode ser considerado preocupante, patológico. E, dentre outras coisas, é por isso que o cuidado com a saúde torna-se cada vez mais semelhante à busca da aptidão: contínuo, fadado à insatisfação permanente, gerando ansiedade e incerteza.
A compulsão transformada em vício de comprar é uma luta contra a incerteza aguda e contra um sentimento de insegurança incomodante. Os consumidores provavelmente estão correndo atrás de sensações agradáveis e reconfortantes. Mas também estão tentando escapar da agonia, do medo do erro, da incompetência. Por isso, o comprar compulsivo é um ritual diário para exorcizar essas terríveis aparições.
Livre para comprar – ou assim parece
As pessoas sofrem por não serem capazes de possuir o mundo de maneira suficientemente completa. Tendemos a ver as vidas dos outros como uma obra de arte e, assim, lutamos para fazer o mesmo. Isso que queremos moldar chama-se identidade. A busca da identidade é a incessante tentativa de solidificar o fluido e de dar forma ao disforme. Porém, as identidades parecem fixas e sólidas apenas quando vistas de fora. A identidade experimentada, vivida, só pode se manter unida com o adesivo da fantasia, do sonhar acordado. É a capacidade de “ir às compras”, de selecionar a própria identidade e de mantê-la enquanto desejo que se torna o verdadeiro caminho para a realização das fantasias de identidade. Com essa capacidade, parece sermos livres para fazer e desfazer identidades à volta. Compartilhar a dependência de consumidor é a condição da liberdade de ser diferente, de ter identidade. Além do ato da compra, é preciso levar em conta o poder que os meios de comunicação de massa exercem sobre a imaginação popular e individual. A vida na telinha diminui e tira o charme da vida vivida. Se coisas instáveis são a matéria-prima das identidades, é preciso manter a própria flexibilidade ao padrões do mundo exterior. Em relação ao panóptico de Foucault, a obediência aos padrões tende a ser alcançada hoje pela tentação e pela sedução, e não mais pela coerção.
Capitalismo – pesado e leve / Tenho carro, posso viajar
As histórias de Orwell e Huxley poderiam ter sido classificados como “discurso de Joshua”, onde a ordem é a regra e a desordem, uma exceção. Aqui, o mundo é organizado e delimitado por fronteiras impenetráveis. Tudo serve a algum propósito, e a própria ordem é, ela mesma, seu próprio propósito. Deus a fez existir e a tarefa de projetar e servir à ordem cabe aos homens. O que sustentava o discurso de Joshua era o mundo fordista, um modelo de industrialização, acumulação e regulação, separando projeto de execução, liberdade de obediência.
O fordismo era a autoconsciência da sociedade moderna em sua fase “pesada”, “sólida”. Nesse estágio, capital, administração e trabalho estavam condenados a ficar juntos talvez para sempre. O capitalismo pesado era obcecado por volume, tamanho e fronteiras firmes impenetráveis.
Agora, o trabalho permanece tão imobilizado quanto no passado, mas o lugar em que ele imaginava estar fixado perdeu sua solidez. Alguns dos habitantes do mundo estão em movimento, para os demais é o mundo que se recusa a ficar parado. O discurso de Joshua, então, começa a soar vazio.
Na passagem do capitalismo pesado para o leve foi considerado um novo tipo de incerteza: não saber os fins, em lugar da incerteza tradicional de não saber os meios. O que está em pauta é considerar e decidir, diante dos riscos, quais dos flutuantes e sedutores fins devem ter prioridade. Ao contrário do pesado, o capitalismo leve tende a ser obcecado por valores, e a ver o mundo como uma coleção infinita de possibilidade. Assim, é a infinidade das oportunidades que preenche o espaço deixado vazio pelo desaparecimento das “torres de comando e de controle”: é o mundo pós-fordista, moderno fluido, dos indivíduos que escolhem em liberdade.
Tudo corre agora por conta do indivíduo. Cabe a ele descobrir o que é capaz de fazer, esticar essa capacidade ao máximo e escolher os fins a que essa capacidade poderia melhor servir. Para que as possibilidades continuem infinitas, nenhuma deve ser capaz de petrificar-se em realidade. Melhor que permaneçam líquidas, fluidas, finitas. Viver em meio a chances aparentemente infinitas tem o gosto doce da “liberdade de tornar-se qualquer um”. O tornar-se sugere que nada está acabado e temos tudo pela frente. A infelicidade dos consumidores deriva do excesso e não da falta da escolha. Caracteriza-se como uma alegria duvidosa, dada a incerteza perpétua e um desejo que nunca saciará.
Pare de me dizer; mostre-me! / A compulsão transformada em vício
Não faltam ainda pessoas que têm milhões de seguidores identificados pelo autor como conselheiros. O papel de um exemplo na sociedade tem a importância quando olhando para a experiência de outras pessoas, esperamos descobrir e localizar os problemas que causaram nossa própria infelicidade, dar-lhes um nome e, portanto, saber para onde olhar para encontrar meios de resistir a eles ou resolvê-los.
Uma celebridade é uma pessoa conhecida por ser muito conhecida. As celebridades com autoridade suficiente para fazer com que o que dizem seja digno de atenção mesmo antes que o digam são muito poucas para estrelar os inúmeros programas de entrevistas da TV, mas isso não impede que esses programas seja uma compulsão diária para milhões pessoas ávidas por aconselhamento. As pessoas “comuns” que aparecem na TV são tão desvalidas e infelizes quanto os espectadores. Seria equivocado condenar ou ridicularizar o vício dos programas de entrevistas como efeito da eterna avidez humana pela fofoca e da “curiosidade barata”. As lições retiradas desse programas respondem a uma demanda genuína e têm valor pragmático inegável, pois já sabemos que depende de nos mesmos fazer o melhor possível de nossas vidas.
Procurar exemplos, conselho é um vício e todos os vícios são auto-destrutivos, destroem a possibilidade de se chegar à satisfação. Exemplos são atraentes enquanto não-testados; a satisfação não duraria muito, pois no mundo dos consumidores as possibilidades são infinitas igualmente ao volume de objetos sedutores à disposição. Então, permanecer na corrida se torna o verdadeiro vício. Nenhum prêmio é suficientemente satisfatório para destituir a atração de outros prêmios O desejo se torna seu próprio propósito. O arquétipo dessa corrida particular é a atividade de comprar: esquadrinhar as possibilidades, examinar, tocar, sentir e manusear coisas. “Vamos às compras” pelo tipo de imagem que gostaríamos de vestir e por modos de fazer com que os outros acreditem que somos o que vestimos; pelos meios de extrair mais satisfação do amor; pelos recursos para fazer mais rápido o que temos a fazer. Essa lista não tem fim. O consumismo de hoje, porém, não diz respeito à satisfação das necessidades, mas ao desejo, o qual liga o consumo à auto-expressão, ao gosto e à discriminação.
Mas o consumismo atual não está fundado sobre a regulação dos desejos, mas sobre a liberação de fantasias desejosas. A história do consumismo é a quebra de sucessivos obstáculos “sólidos” que limitam a fantasia e reduzem o “princípio do prazer (PP)” ao que é dito pelo “princípio da realidade (PR)”. Um estimulante ainda poderoso para manter a demanda do consumidor é o “querer”, que é imediato e completa a libertação do PP, limpando os últimos resíduos dos impedimentos do PR.
O corpo do consumidor / Comprar como ritual de exorcismo
O principal cuidado é a adequação: estar sempre pronto, desenvolver novos desejos (insaciáveis). Se a sociedade de produtores coloca a saúde como o padrão de meta, a sociedade de consumidores tem seu ideal na aptidão. A saúde demarca os limites entre norma e anormalidade; é o estado próprio e desejável de corpo e espírito. Refere-se a uma condição corporal e psíquica que permite a satisfação das demandas do papel socialmente atribuído. O estado de aptidão é tudo menos sólido, seu verdadeiro teste fica sempre no futuro: “estar apto” significa ter um corpo flexível, ajustável, pronto para viver sensações ainda não testadas e imprevisíveis. A aptidão diz respeito a uma experiência subjetiva: a satisfação e o prazer são sensações precisam ser subjetivamente experimentadas.
O status de todas as normas (também da saúde) foi abalado numa sociedade de infinitas possibilidades. O que ontem era considerável normal e satisfatório, hoje pode ser considerado preocupante, patológico. E, dentre outras coisas, é por isso que o cuidado com a saúde torna-se cada vez mais semelhante à busca da aptidão: contínuo, fadado à insatisfação permanente, gerando ansiedade e incerteza.
A compulsão transformada em vício de comprar é uma luta contra a incerteza aguda e contra um sentimento de insegurança incomodante. Os consumidores provavelmente estão correndo atrás de sensações agradáveis e reconfortantes. Mas também estão tentando escapar da agonia, do medo do erro, da incompetência. Por isso, o comprar compulsivo é um ritual diário para exorcizar essas terríveis aparições.
Livre para comprar – ou assim parece
As pessoas sofrem por não serem capazes de possuir o mundo de maneira suficientemente completa. Tendemos a ver as vidas dos outros como uma obra de arte e, assim, lutamos para fazer o mesmo. Isso que queremos moldar chama-se identidade. A busca da identidade é a incessante tentativa de solidificar o fluido e de dar forma ao disforme. Porém, as identidades parecem fixas e sólidas apenas quando vistas de fora. A identidade experimentada, vivida, só pode se manter unida com o adesivo da fantasia, do sonhar acordado. É a capacidade de “ir às compras”, de selecionar a própria identidade e de mantê-la enquanto desejo que se torna o verdadeiro caminho para a realização das fantasias de identidade. Com essa capacidade, parece sermos livres para fazer e desfazer identidades à volta. Compartilhar a dependência de consumidor é a condição da liberdade de ser diferente, de ter identidade. Além do ato da compra, é preciso levar em conta o poder que os meios de comunicação de massa exercem sobre a imaginação popular e individual. A vida na telinha diminui e tira o charme da vida vivida. Se coisas instáveis são a matéria-prima das identidades, é preciso manter a própria flexibilidade ao padrões do mundo exterior. Em relação ao panóptico de Foucault, a obediência aos padrões tende a ser alcançada hoje pela tentação e pela sedução, e não mais pela coerção.
20 de dez. de 2007

São tantos peixinhos
Mil lugares pra explorar
Se você for, eu acompanho
E aí? Quer tentar...?
**Bom, não sei se poderia, mas me atrevi a postar =)
Foi numa discussão em uma de nossas aulas que Lázaro me lembrou da analogia do aquário feita por kléber; depois da aula fui pra BICEN e no caminho pensei nessas quatro frases
Me veio na cabeça de fazer uma postagem e pôr uma foto
É isso.. ^^
Bjinhos e Sorrisos
Até a volta**
13 de dez. de 2007
ATA - Reunião 11.12.07
- Presença: Andressa, Bruna, Herica, Jade, João, Karine, Lázaro, Marcus, Rafaela.
- Discussão e apresentação por Marcus do capítulo 1 "Emancipação" - Modernidade Líquida.
- Proposta da Bolsa UOL: dois bolsista e Kleber
TAREFAS
- Herica: postar até segunda o capítulo 2 "Individualidade" - Modernidade Líquida
- Kleber: propor um cronograma de entrevistas (previstas para o retorno do recesso)
- Marcus: continuar (e finalizar) a apresentação do capítulo 1 na p´roxima reunião.
PRÓXIMA REUNIÃO
- Não haverá
BOLSA UOL
- Avaliação: Texto "O que é o Iluminismo?" (Michel Foucault)
- Data: 18.12.07
- Hora: 9 hs às 12 hs
- Aplicador da avaliação: Marcus
10 de dez. de 2007
Emancipação - cap 1 de Modernidade Líquida, Zygmunt Bauman (Resumo)
**Emancipação
Ao fim das três décadas que se seguiram à Segunda Guerra Mundial, época de prosperidade, de uma sociedade rica e poderosa, apresentou-se como problema o dever de emancipação, não a libertação em si, mas a falta de desejo das pessoas para serem libertadas. Libertar-se significa sentir-se livre das limitações, ser livre para agir conforme os desejos. Uma ameaça que atormentava os filósofos era que as pessoas pudessem não querer ser livres, pelas dificuldades que o exercício da liberdade pode acarretar.
As bênçãos mistas da liberdade
A questão sobre a liberdade, se seria ela uma bênção ou uma maldição, assombrou pensadores durante a maior parte da era moderna, quando ficou claro que os que deveriam dela gozar relutavam em aceitá-la. Houve dois tipos de resposta à questão: a primeira lançando dúvidas sobre a prontidão do povo para a liberdade, e a segunda inclinando-se a aceitar que os homens podem estar certos quando questionam os benefícios que as liberdades podem trazer. Na perspectiva de Hobbes, depois desenvolvida por Durkheim, não há outro caminho para o indivíduo buscar a libertação senão submetendo-se à sociedade e seguindo suas normas. Padrões e rotinas fazem com que os homens saibam como agir na maior parte do tempo, e que raramente se encontrem em situações em que as decisões devem ser tomadas com a própria responsabilidade e sem o conhecimento das conseqüências.
As casualidades e a sorte cambiante da crítica
Para Cornelius Castoriadis o que está errado em nossa sociedade é que ela deixou de se questionar, não reconhece mais qualquer alternativa para si mesma. Mas isso não significa que tenha suprimido o pensamento crítico como tal, pelo contrário, fez da crítica da realidade e do que está posto uma parte inevitável e obrigatória da vida dos indivíduos. Mas a sociedade da modernidade fluida é inóspita à crítica, acomoda o pensamento e a ação críticos de modo que permaneça imune a suas conseqüências, saindo intacta e sem cicatrizes.
Atualmente temos a crítica ao estilo do consumidor, que veio substituir a crítica ao estilo do produtor. As causas da mudança estão ligadas à profunda transformação do espaço público, e do modo como a sociedade opera e se perpetua. A teoria crítica clássica, de Adorno e Horkheimer, insere-se no contexto de uma modernidade pesada, sólida, condensada e sistêmica, tendente ao totalitarismo. Um dos principais ícones dessa modernidade é a fábrica fordista, que reduzia a atividade humana a movimentos simples e rotineiros, excluindo a espontaneidade e iniciativa individual. A teoria crítica pretendia neutralizar e eliminar de vez a tendência totalitária da sociedade, buscando sobretudo a defesa da autonomia, da liberdade de escolha e da auto-afirmação humanas. A sociedade que entra no século XXI é moderna de um modo diferente da que entrou no século XX. A modernidade é marcada pela contínua modernização, por uma insaciável destruição criativa. Ser moderno significa ser incapaz de parar e de ficar parado, por causa da impossibilidade de alcançar a satisfação. Duas características fazem nossa modernidade nova e diferente: o colapso da antiga crença de que há um fim no caminho que andamos, um telos alcançável, e a desregulamentação e privatização das tarefas e deveres modernizantes.
O indivíduo em combate com o cidadão
A apresentação de seus membros como indivíduos é marca registrada da sociedade moderna. A individualização é uma atividade incessante e diária, e muda seu significado constantemente, assumindo novas formas. Ulrich Beck contribui para a compreensão do processo de individualização, através de diversas obras. A individualização consiste em transformar a identidade humana de um em uma tarefa, encarregando os atores da responsabilidade de realizar essa tarefa e das conseqüências de sua realização. Os indivíduos não mais nascem em suas identidades; precisam tornar-se o que já são, sendo esta uma característica da vida moderna. A modernidade antiga desacomodava para reacomodar, sendo essa reacomodação uma tarefa posta aos indivíduos. Os estamentos, a que se pertencia por hereditariedade, foram substituídos pelas classes. O pertencimento às classes era uma realização, deveria ser buscado, continuamente renovado, reconfirmado e testado na conduta diária. Os indivíduos com menos recursos tinham que compensar sua fraqueza individual pela força do numero, partindo para a ação coletiva, somando suas privações, que congelavam-se em interesses comuns. O coletivismo foi a primeira estratégia para aqueles incapazes de se auto-afirmar enquanto indivíduos. O que distingue essa individualização da individualização da segunda modernidade é a ausência de lugares para reacomodação, e os lugares que se apresentam são frágeis, e freqüentemente desaparecem antes que seja completado o trabalho de reacomodação. Tanto no estágio leve e fluido da modernidade quanto no sólido e pesado a individualização é uma fatalidade, não uma escolha. Os riscos e contradições são socialmente produzidos, mas o dever e a necessidade de enfrentá-los estão sendo individualizados. Atualmente, os problemas dos indivíduos podem ser semelhantes, mas não podem fundir-se para formar uma totalidade. Tocqueville afirma que a libertação das pessoas pode torná-las indiferentes. O indivíduo é o pior inimigo do cidadão, pois o cidadão busca seu próprio bem-estar através do bem-estar da cidade, enquanto o indivíduo tende a ser cético ou prudente em relação à causa comum. O outro lado da individualização parece ser a corrosão e lenta desintegração da cidadania. Os cuidados e preocupações dos indivíduos, enquanto indivíduos, enchem o espaço público, como seus únicos ocupantes legítimos, expulsando todo o resto. Assim, o público é colonizado pelo privado.
O compromisso da teoria crítica na sociedade dos indivíduos
Ser um indivíduo significa não ter ninguém a quem culpar pela própria miséria, não procurar as causas das próprias derrotas senão na própria indolência e preguiça, e não ter outro remédio senão tentar com mais determinação. Há demanda por cabides individuais onde os indivíduos possam pendurar coletivamente, ainda que por breve período, seus temores individuais. Há um grande abismo entre a condição de indivíduos de jure e suas chances de tornarem-se indivíduos de facto. Ele não pode ser transposto apenas por esforços individuais, pois é tarefa da Política. O abismo emergiu e cresceu por causa do esvaziamento do espaço público, e do lugar intermediário público/privado, onde problemas privados são traduzidos para linguagem das questões públicas, e soluções públicas para os problemas privados são buscadas, negociadas e acordadas. A tarefa da teoria crítica era defender a autonomia privada contra as tropas da “esfera pública”. Hoje sua tarefa é defender o domínio público, ou repovoar e reequipar o espaço público, que se esvazia rapidamente. Não é mais o público que tenta colonizar o privado; o que se dá é o contrário, o privado coloniza o público. O poder navega para longe do alcance do controle dos cidadãos, para a extraterritorialidade das redes eletrônicas. O espaço público está cada vez mais vazio de questões públicas, dessa forma as perspectivas de que o indivíduo de jure se torne indivíduo de facto parecem cada vez mais remotas.
Ao fim das três décadas que se seguiram à Segunda Guerra Mundial, época de prosperidade, de uma sociedade rica e poderosa, apresentou-se como problema o dever de emancipação, não a libertação em si, mas a falta de desejo das pessoas para serem libertadas. Libertar-se significa sentir-se livre das limitações, ser livre para agir conforme os desejos. Uma ameaça que atormentava os filósofos era que as pessoas pudessem não querer ser livres, pelas dificuldades que o exercício da liberdade pode acarretar.
As bênçãos mistas da liberdade
A questão sobre a liberdade, se seria ela uma bênção ou uma maldição, assombrou pensadores durante a maior parte da era moderna, quando ficou claro que os que deveriam dela gozar relutavam em aceitá-la. Houve dois tipos de resposta à questão: a primeira lançando dúvidas sobre a prontidão do povo para a liberdade, e a segunda inclinando-se a aceitar que os homens podem estar certos quando questionam os benefícios que as liberdades podem trazer. Na perspectiva de Hobbes, depois desenvolvida por Durkheim, não há outro caminho para o indivíduo buscar a libertação senão submetendo-se à sociedade e seguindo suas normas. Padrões e rotinas fazem com que os homens saibam como agir na maior parte do tempo, e que raramente se encontrem em situações em que as decisões devem ser tomadas com a própria responsabilidade e sem o conhecimento das conseqüências.
As casualidades e a sorte cambiante da crítica
Para Cornelius Castoriadis o que está errado em nossa sociedade é que ela deixou de se questionar, não reconhece mais qualquer alternativa para si mesma. Mas isso não significa que tenha suprimido o pensamento crítico como tal, pelo contrário, fez da crítica da realidade e do que está posto uma parte inevitável e obrigatória da vida dos indivíduos. Mas a sociedade da modernidade fluida é inóspita à crítica, acomoda o pensamento e a ação críticos de modo que permaneça imune a suas conseqüências, saindo intacta e sem cicatrizes.
Atualmente temos a crítica ao estilo do consumidor, que veio substituir a crítica ao estilo do produtor. As causas da mudança estão ligadas à profunda transformação do espaço público, e do modo como a sociedade opera e se perpetua. A teoria crítica clássica, de Adorno e Horkheimer, insere-se no contexto de uma modernidade pesada, sólida, condensada e sistêmica, tendente ao totalitarismo. Um dos principais ícones dessa modernidade é a fábrica fordista, que reduzia a atividade humana a movimentos simples e rotineiros, excluindo a espontaneidade e iniciativa individual. A teoria crítica pretendia neutralizar e eliminar de vez a tendência totalitária da sociedade, buscando sobretudo a defesa da autonomia, da liberdade de escolha e da auto-afirmação humanas. A sociedade que entra no século XXI é moderna de um modo diferente da que entrou no século XX. A modernidade é marcada pela contínua modernização, por uma insaciável destruição criativa. Ser moderno significa ser incapaz de parar e de ficar parado, por causa da impossibilidade de alcançar a satisfação. Duas características fazem nossa modernidade nova e diferente: o colapso da antiga crença de que há um fim no caminho que andamos, um telos alcançável, e a desregulamentação e privatização das tarefas e deveres modernizantes.
O indivíduo em combate com o cidadão
A apresentação de seus membros como indivíduos é marca registrada da sociedade moderna. A individualização é uma atividade incessante e diária, e muda seu significado constantemente, assumindo novas formas. Ulrich Beck contribui para a compreensão do processo de individualização, através de diversas obras. A individualização consiste em transformar a identidade humana de um em uma tarefa, encarregando os atores da responsabilidade de realizar essa tarefa e das conseqüências de sua realização. Os indivíduos não mais nascem em suas identidades; precisam tornar-se o que já são, sendo esta uma característica da vida moderna. A modernidade antiga desacomodava para reacomodar, sendo essa reacomodação uma tarefa posta aos indivíduos. Os estamentos, a que se pertencia por hereditariedade, foram substituídos pelas classes. O pertencimento às classes era uma realização, deveria ser buscado, continuamente renovado, reconfirmado e testado na conduta diária. Os indivíduos com menos recursos tinham que compensar sua fraqueza individual pela força do numero, partindo para a ação coletiva, somando suas privações, que congelavam-se em interesses comuns. O coletivismo foi a primeira estratégia para aqueles incapazes de se auto-afirmar enquanto indivíduos. O que distingue essa individualização da individualização da segunda modernidade é a ausência de lugares para reacomodação, e os lugares que se apresentam são frágeis, e freqüentemente desaparecem antes que seja completado o trabalho de reacomodação. Tanto no estágio leve e fluido da modernidade quanto no sólido e pesado a individualização é uma fatalidade, não uma escolha. Os riscos e contradições são socialmente produzidos, mas o dever e a necessidade de enfrentá-los estão sendo individualizados. Atualmente, os problemas dos indivíduos podem ser semelhantes, mas não podem fundir-se para formar uma totalidade. Tocqueville afirma que a libertação das pessoas pode torná-las indiferentes. O indivíduo é o pior inimigo do cidadão, pois o cidadão busca seu próprio bem-estar através do bem-estar da cidade, enquanto o indivíduo tende a ser cético ou prudente em relação à causa comum. O outro lado da individualização parece ser a corrosão e lenta desintegração da cidadania. Os cuidados e preocupações dos indivíduos, enquanto indivíduos, enchem o espaço público, como seus únicos ocupantes legítimos, expulsando todo o resto. Assim, o público é colonizado pelo privado.
O compromisso da teoria crítica na sociedade dos indivíduos
Ser um indivíduo significa não ter ninguém a quem culpar pela própria miséria, não procurar as causas das próprias derrotas senão na própria indolência e preguiça, e não ter outro remédio senão tentar com mais determinação. Há demanda por cabides individuais onde os indivíduos possam pendurar coletivamente, ainda que por breve período, seus temores individuais. Há um grande abismo entre a condição de indivíduos de jure e suas chances de tornarem-se indivíduos de facto. Ele não pode ser transposto apenas por esforços individuais, pois é tarefa da Política. O abismo emergiu e cresceu por causa do esvaziamento do espaço público, e do lugar intermediário público/privado, onde problemas privados são traduzidos para linguagem das questões públicas, e soluções públicas para os problemas privados são buscadas, negociadas e acordadas. A tarefa da teoria crítica era defender a autonomia privada contra as tropas da “esfera pública”. Hoje sua tarefa é defender o domínio público, ou repovoar e reequipar o espaço público, que se esvazia rapidamente. Não é mais o público que tenta colonizar o privado; o que se dá é o contrário, o privado coloniza o público. O poder navega para longe do alcance do controle dos cidadãos, para a extraterritorialidade das redes eletrônicas. O espaço público está cada vez mais vazio de questões públicas, dessa forma as perspectivas de que o indivíduo de jure se torne indivíduo de facto parecem cada vez mais remotas.
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Nota: Não sabia bem o que fazer, entre roteiro e fichamento, preferi resumir. Muita coisa ficou de fora. E o que ficou foi, provavelmente, por dificuldade de compreensão.
3 de dez. de 2007
Um calendário
As datas buscam fazer dos dias alguma repetição. Isso parece triste. É triste, mas é confortável. Quando são datas alegres, comemora-se e na data arrisca-se a felicidade. Um acontecimento.
Já quando as datas são fardulentas, arriscar uma alegria já parece temerário. Arrisca-se então o conforto. Mas pode aparecer alguém com uma vontade desmedida que arrisque retirar a métrica da data, já que data e dados são a mesma coisa. E se “ainda estão rolando os dados”, as coisas podem ser diferentes daquilo que lhe quis as datas.
Bom, vamos às datas:
11/12 > reunião às 9h. Apresentação e conversa sobre o capítulo 1 de Modernidade Líquida (Marcus).
18/12 > reunião às 9h. Apresentação e conversa sobre o capítulo 2 de Modernidade Líquida (Hérica).
Seria interessante postar no blog um roteiro ou fichamento do que vai ser apresentado com no máximo 24 horas de antecedência.
ps: por e-mail, proposta de programação para as entrevistas.
Já quando as datas são fardulentas, arriscar uma alegria já parece temerário. Arrisca-se então o conforto. Mas pode aparecer alguém com uma vontade desmedida que arrisque retirar a métrica da data, já que data e dados são a mesma coisa. E se “ainda estão rolando os dados”, as coisas podem ser diferentes daquilo que lhe quis as datas.
Bom, vamos às datas:
11/12 > reunião às 9h. Apresentação e conversa sobre o capítulo 1 de Modernidade Líquida (Marcus).
18/12 > reunião às 9h. Apresentação e conversa sobre o capítulo 2 de Modernidade Líquida (Hérica).
Seria interessante postar no blog um roteiro ou fichamento do que vai ser apresentado com no máximo 24 horas de antecedência.
ps: por e-mail, proposta de programação para as entrevistas.
2 de dez. de 2007
Foram perguntas interessantes, que em alguns momentos se tornaram muito íntimas mas acredito que havendo só o entrevistado e entrevistador, caso entre eles haja uma interação vão ser respondidas sim. Afinal de contas eu acho que o vai fazer a diferença é como elas vão ser perguntadas. Bom, gostei de poder ter contribuído e vamos torcer para que um bom trabalho possa ser realizado :]
Beijos
Beijos
29 de nov. de 2007
ATA - Reunião 27.11.07
- Presença: Andressa, Bruna, Herica, Jade, João, Karne, Laura, Lázaro, Marcus.
- Realização da entrevista com Bruna: Identidade - Jade/ Consumo - Herica/ Amizade - Andressa
- Na entrevista de amizade, atentar para a cibercultura; caso ela não apareça, o entrevistador pode investigar.
- Conversa/discusão sobre o andamento e funcionamento do grupo
PRÓXIMA REUNIÃO
- Local: Sala 117 Didática I
- Hora: 9 hs
TAREFAS
- Kleber: postar uma sugestão de cronograma para o roterio de entrevista
- Bruna: postar suas impressões sobre as questões e a entrevista.
28 de nov. de 2007
Minha situação
Genteeeeee...
Td bem? quanto tempooo...hihihi
Já to com saudades...
Enfim, estou aqui para explicar minha ausência/saída do grupo. Eu já expliquei para Kleber e conversei com alguns de vocês...mas, como nao pude ainda ir na reunião para falar oficialmente vim aqui para falar.
É o seguinte, eu arranjei um estágio e por todos os motivos que vocês podem imaginar é impossível recusar e como são todos os dias pela manhã vou ter que sair do grupo=(
Há ainda uma remota possibilidade de eu voltar caso consiga dar um jeitinho lá e faltar a terça, mas ainda nao tive oportunidade de falar com a chefinha...
Então por enquanto oficialmente eu saí do grupo...certo?
Desculpa por não poder ir falar pessoalmente e talz..mas vou ver se consigo na próxima terça!
=)
22 de nov. de 2007
ATA - Reunião 20.11.07
- Discussão das questões do roteiro de entrevistas
- Leitura e Esclarecimento de cada pergunta e dos seus questionamentos
- Presença: Andressa, Herica, Jade, João, Karine, Laura, Lázaro, Rafaela.
PRÓXIMA REUNIÃO
- Local: diática I - sala: 117 / Hora: 9 hs
- A entrevista será feita com Bruna.
15 de nov. de 2007
ATA - Reunião 13.11.07
- Discusão do roteiro de entrevista - Rafaela e Andressa trouxeram suas perguntas para a reunião.
- Presença: Andressa, Herica, Jade, João, Karine, Lázaro, Marcus, Rafaela.
- Para todos: já podem enviar perguntas do roteiro de entrevista pro email do grupo; Kleber se disponibilizou a fazer um "roteirão".
14 de nov. de 2007
Site-referência
Pensando em todos que nos acompanham e dão suporte escrito a nossas falas e posteriores, também, escritos, venho aqui por meio destas mal traçadas linhas meio que trazer a tona um achado - muito interessante por sinal - com qual me deparei por acaso e que me deixou contente, pois também dialoga com alguns bons conhecidos nossos que permeiam discursos outros, e principalmente por ser gente nova e interessante produzindo, dizendo coisas...
Tornar público um bom trabalho é sempre interessante, então vou usando o blog como uma via de fazê-lo, não só para nós do grupo de pesquisa, mas também para algum navegador (des)avisado que também, algum dia, depare-se por acaso com nosso blog e sinta essa vontade de falar dele. fica aí a dica:
http://www.rizoma.net/
Tornar público um bom trabalho é sempre interessante, então vou usando o blog como uma via de fazê-lo, não só para nós do grupo de pesquisa, mas também para algum navegador (des)avisado que também, algum dia, depare-se por acaso com nosso blog e sinta essa vontade de falar dele. fica aí a dica:
http://www.rizoma.net/
11 de nov. de 2007
ATA - Reunião 06/11/07
Para constar como ATA dessa data de reunião, fica aqui o seguinte...
- Discussão do prefácio de Modernidade Líquida: Cada autora dos textos postados no blog se posicionou. Depois tentou a partir do texto original, explicar algumas partes e retirar algumas dúvidas.
- Presença de: Kleber, Andressa, Hérica, Rafa, Jade, Bruna, João, Lázaro, Karyne, Laura.
- RELEMBRANDO - Dentro do cronograma para reunião de 13/11/07 fica a formulação das perguntas do roteiro de entrevistas do projeto PIBIC. OBS: "Cobaia" ou "Rato branco" (apelidos carinhosos dado a Bruna) não vai à reunião... :)
- Maiores informações a ATA podem se colocar...INTÉ
7 de nov. de 2007
Mensagem da Lígia
----- Original Message -----
From: Lígia Oliveira Silva
To: kleber matos
Sent: Tuesday, November 06, 2007 10:49 PM
Subject: Abrapso - Resultados
Kleber, por favor leia e repasse esse e-mail para os integrantes da pesquisa.Olá a todos!!Estou escrevendo para dar alguns pareceres sobre o trabalho do Orkut no encontro da abrapso. Foram vários imprevistos, mas no final deu tudo muito certo!! Primeiro, que colocaram preu apresentar o pôster no sábado e eu ia embora na sexta de madrugada. Enchi tanto o saco do organizador que no final ele conseguiu me transferir pra sexta-feira!! Lá tinha avaliador e premiação de pôster, ou seja, tinha q apresentar mesmo e as pessoas davam valor. Assim que eu pendurei o pôster, um monte de gente parava pra olhar, e quando as avaliadoras chegaram, que eu comecei a explicar, começou a juntar um monte de gente, que nem cabia mais no corredor, e o povo perguntando milhões, e as avaliadoras também perguntando milhões, sobre coisas que eu nunca tinha pensado, mas deu pra se virar legal!! Sei que todo mundo discutiu, tirou onda, acrescentou, criticou, elogiou, e no fim, uma explicação que era pra durar uns 10 min durou 40min, mas todo mundo achou legal. Depois que as avaliadoras foram embora, juntou mais um monte de gente e eu dei outra explicação prum cara que foi aluno de Virginia Kastrup, que comecou a perguntar milhões, o que durou mais uns 40 min. Daí depois disso acabou o tempo do pôster (era +/- 1:30h só). Nesse mesmo dia, mais tarde, foi a sessão temática. Não sei como meu nome foi parar de coordenadora da sessão, mas bom, lá fui eu. Todos os outros trabalhos da sessão era sobre orkut e internet, o que fez da sessão muito proveitosa, pois os trabalhos se complementaram. Porém, a análise mais profunda sobre o orkut em si foi a nossa. Uma menina falava sobre anorexia no orkut (comunidade), um cara sobre prazer sexual (mas não compareceu), e outra menina falava sobre um estudo de lan houses e usuário de internet. A sala lotou, e no fim das apresentações se deu um debate muito produtivo. As pessoas comentavam, problematizavam, elogiavam, etc. E basicamente foi isso!! E ainda mais, pra completar, acabei de ver no site da abrapso que o nosso painel foi premiado como o melhor do eixo de mídia, comunicação e linguagem no dia 02/03! olhem aqui o link do site: http://abrapso.org.br/siteprincipal/index.php?option=com_content&task=view&id=171&Itemid=29
No mais, bjo a todos e agradeço pela oportunidade que me foi dada de levar esse trabalho pro Rio, apesar de não fazer mais parte do grupo. Outros congressos que os integrantes não puderem comparecer e eu porventura for, estou à disposição para apresentar o trabalho novamente.
Bjo gente!!!
Lígia
From: Lígia Oliveira Silva
To: kleber matos
Sent: Tuesday, November 06, 2007 10:49 PM
Subject: Abrapso - Resultados
Kleber, por favor leia e repasse esse e-mail para os integrantes da pesquisa.Olá a todos!!Estou escrevendo para dar alguns pareceres sobre o trabalho do Orkut no encontro da abrapso. Foram vários imprevistos, mas no final deu tudo muito certo!! Primeiro, que colocaram preu apresentar o pôster no sábado e eu ia embora na sexta de madrugada. Enchi tanto o saco do organizador que no final ele conseguiu me transferir pra sexta-feira!! Lá tinha avaliador e premiação de pôster, ou seja, tinha q apresentar mesmo e as pessoas davam valor. Assim que eu pendurei o pôster, um monte de gente parava pra olhar, e quando as avaliadoras chegaram, que eu comecei a explicar, começou a juntar um monte de gente, que nem cabia mais no corredor, e o povo perguntando milhões, e as avaliadoras também perguntando milhões, sobre coisas que eu nunca tinha pensado, mas deu pra se virar legal!! Sei que todo mundo discutiu, tirou onda, acrescentou, criticou, elogiou, e no fim, uma explicação que era pra durar uns 10 min durou 40min, mas todo mundo achou legal. Depois que as avaliadoras foram embora, juntou mais um monte de gente e eu dei outra explicação prum cara que foi aluno de Virginia Kastrup, que comecou a perguntar milhões, o que durou mais uns 40 min. Daí depois disso acabou o tempo do pôster (era +/- 1:30h só). Nesse mesmo dia, mais tarde, foi a sessão temática. Não sei como meu nome foi parar de coordenadora da sessão, mas bom, lá fui eu. Todos os outros trabalhos da sessão era sobre orkut e internet, o que fez da sessão muito proveitosa, pois os trabalhos se complementaram. Porém, a análise mais profunda sobre o orkut em si foi a nossa. Uma menina falava sobre anorexia no orkut (comunidade), um cara sobre prazer sexual (mas não compareceu), e outra menina falava sobre um estudo de lan houses e usuário de internet. A sala lotou, e no fim das apresentações se deu um debate muito produtivo. As pessoas comentavam, problematizavam, elogiavam, etc. E basicamente foi isso!! E ainda mais, pra completar, acabei de ver no site da abrapso que o nosso painel foi premiado como o melhor do eixo de mídia, comunicação e linguagem no dia 02/03! olhem aqui o link do site: http://abrapso.org.br/siteprincipal/index.php?option=com_content&task=view&id=171&Itemid=29
No mais, bjo a todos e agradeço pela oportunidade que me foi dada de levar esse trabalho pro Rio, apesar de não fazer mais parte do grupo. Outros congressos que os integrantes não puderem comparecer e eu porventura for, estou à disposição para apresentar o trabalho novamente.
Bjo gente!!!
Lígia
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